• O ministro da Fazenda, para executar um trabalho sério de ajuste, contrariaria muitos interesses do PT, e sequer Dilma acredita na sua política
Quando foi indicado a Dilma para assumir o Ministério da Fazenda, o diretor do Bradesco Joaquim Levy foi visto como quem exerceria o papel que coube a Antonio Palocci no primeiro governo Lula, ou seja, ser o protagonista de um ajuste econômico.
Palocci, com o próprio Levy na Secretaria do Tesouro e a ajuda do ex-presidente executivo mundial do Bank Boston Henrique Meirelles no Banco Central, executou a missão. Já Levy, com oito meses de governo Dilma, está prestes a cumprir a profecia de que não conseguiria ficar muito tempo no cargo. Pior para o Brasil, porque a crise agora é bem mais grave que a de 2002/2003.
E ele não deverá ficar, a não ser que Dilma cumpra a promessa de apoiá-lo na busca de um ajuste de fato. Porém, há uma geometria política nada amigável para um “forasteiro” como Levy, de perfil e biografia bem diferentes de Palocci, um petista de muitas estrelas, capaz de se impor perante o partido, e ainda com a ajuda do líder supremo petista Lula, bem diferente de Dilma, uma brizolista imposta ao PT pelo próprio mais graduado “capa preta" da legenda.
Agora, para azar de todos, incluindo a presidente, nem mesmo ela acredita nas propostas de Levy, por contrariar sua fé ideológica, quase religiosa, nos déficits orçamentários como motor do crescimento, um dos dogmas maiores dos “desenvolvimentistas”, com os quais a economista Dilma comunga. Não importa que tenha sido esta mesma política, chamada de “novo marco macroeconômico", que, aplicada desde o fim do segundo mandato de Lula, tenha levado o Brasil à beira da ruína fiscal. O país, em sua História, faliu várias vezes por falta de libras e dólares nas reservas externas. Agora, quebrou em moeda nacional.
Lula é suficientemente maleável para assumir qualquer crença desde que o salve de enrascadas. Foi assim no início do seu primeiro governo, e deu certo. Já Dilma tem convicções próprias inabaláveis — e erradas. Em entrevista a rádios da Paraíba, ontem, um dia após ter segurado Levy no cargo com a promessa de defender, para 2016, a perseguição da meta de superávit primário de 0,7% do PIB, Dilma disse que, no Orçamento, “cortamos tudo o que podia ser cortado”. Ora.
Fica claro que Levy é mantido apenas como símbolo. Um carro abre-alas de uma escola de samba de terceiro grupo. Ele pode ser fulgurante, mas as alas que vêm atrás levam “zero” em harmonia, evolução e adereços.
Com Palocci, o PT não formulava documentos para pedir mudanças na política econômica. Nem havia manifestações de rua de organizações ditas sociais contra o ministro, tudo financiado por dinheiro público vazado por aparelhos que o lulopetismo incrustou dentro da máquina do Estado. Esta que Levy defende reduzir. Não conseguirá, por certo.
O conflito entre um Levy que deseja dar prioridade a cortes nas despesas — mesmo que impliquem mudanças legais —e um Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, defensor de mais impostos, apesar de uma carga tributária já escorchante, é antigo no Brasil.
E o “desenvolvimentista” costuma ganhar do “fiscalista” esta queda de braço, infelizmente. Mesmo diante de uma crise potencialmente de dimensões gigantescas. No governo Figueiredo, ainda na ditadura, o “desenvolvimentista” Delfim Netto derrotou o “fiscalista” Mário Henrique Simonsen. Empresários da Fiesp lotaram o salão na posse. Figueiredo assumiu com uma taxa de inflação de 40% ao ano e deixou o Planalto com ela a mais de 200%.
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