• Observações do vice sobre impopularidade de Dilma se cercam de ambiguidades, mas revelam como ele está cada vez mais à vontade
Se fosse pronunciada por algum comentarista político, a observação dificilmente fugiria aos limites do óbvio. Nenhum presidente resiste muito, com efeito, a índices tão baixos de sustentação popular como têm sido os 7% ou 8% de aprovação que remanescem para Dilma Rousseff (PT).
A constatação repercute de forma diferente, entretanto, quando ninguém menos que o próprio vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), é quem a enuncia.
Ainda mais quando se recorda que não é esta a primeira vez que Temer incorre em avaliações desse teor. De modo mais sibilino, já aludira à necessidade de um nome que unisse o país, em entrevista da qual posteriormente tentou dissipar a sugestão óbvia –a saber, a de que a presidente Dilma já não era mais capaz desse papel.
Adveio daí indisfarçável distanciamento entre o vice e a titular do cargo. Temer, desde abril responsável pelas articulações políticas do governo, viu seu papel ser progressivamente diminuído por Dilma.
Em pouco tempo, o peemedebista abandonou a missão que, não de bom grado, lhe haviam incumbido. O desastrado anúncio de que se pensava em ressuscitar a CPMF fora feito sem que Temer, cuja habilidade seria de valia nesse caso, tivesse ouvida sua opinião.
De certa forma, a vocação irreprimível do peemedebista pelo acerto fisiológico encontrou alguns limites no que tange à saúde de seu sistema digestivo. O próspero viveiro em funcionamento no Planalto vai impondo a Temer mais sapos do que lhe é possível engolir.
Natural que reaja, assim, com alguns momentos de acidez. Ainda mais porque, numa conversa com empresários, como foi a ocasião em que se referiu à baixa popularidade da presidente, não seria coerente com o feitio do vice mostrar-se tão distanciado da realidade a ponto de negar o que todos percebem com clareza.
Daí para especular sobre os possíveis intuitos conspiratórios do vice há uma sensível distância. O maquiavelismo político também se faz de esperas e de alternativas, não apenas de mensagens cifradas.
Pode-se dizer, sem dúvida, que a frase de Temer provém de um ponto de vista mais afastado do Planalto do que seria adequado.
Cercou-se, entretanto, de outras em sentido oposto –como a de que Dilma Rousseff não "é de renunciar". Para reforçar a ideia, fez questão de classificar a presidente como "guerreira", termo bem ao gosto da militância petista.
No governo, onde não são poucas suas possibilidades de acumular poder, Michel Temer aguarda, reflete e faz seu jogo, cada vez mais à vontade. Uma peça se move; paciência, com certeza, não lhe falta.
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