• Parte do PMDB minimiza declaração do vice de que Dilma não resiste a mais três anos com baixa popularidade
Planalto acha desastrosa fala de Temer sobre popularidade de Dilma
• Nos bastidores, há no palácio preocupação com saída de vice do governo
Fernanda Krakovics, Catarina Alencastro e Cristiane Jungblut - O Globo
-BRASÍLIA- A declaração do vicepresidente Michel Temer de que será difícil a presidente Dilma Rousseff resistir até o fim do mandato se mantiver a baixa popularidade foi considerada “desastrosa” no Palácio do Planalto e fortaleceu os argumentos da corrente que acusa o vice de conspirar para derrubá-la. Apesar de auxiliares da presidente tentarem minimizar as declarações do vice, afirmando que foram tiradas do contexto, a avaliação do núcleo no entorno de Dilma é que as afirmações de Temer fragilizam o governo.
Oficialmente, no entanto, o Planalto adotou ontem linha conciliatória. O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, elogiou Temer, dizendo que ele é um colaborador importante da presidente.
— Para nós, o fundamental tem sido a postura de Temer. Ele tem sido extremamente leal. Correto, não só com o governo, mas com os interesses do país — afirmou Silva.
Nos bastidores, no entanto, auxiliares de Dilma manifestam preocupação intensa com o desembarque do vice do governo. A luz vermelha acendeu na última quarta-feira, quando, em almoço com Dilma,
Temer disse que não ajudaria mais o governo na articulação política direta com o Congresso. Anteontem, em evento com empresários, em São Paulo, o vice afirmou: “Se ela continuar com 7%, 8% de popularidade, de fato fica difícil, não dá para passar três anos e meio assim”.
A fala é um revés justamente no momento em que a presidente fazia um esforço de reaproximação com o PMDB. Nas últimas semanas, Dilma conversou os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, e com os líderes da legenda Leonardo Picciani e Eunício Oliveira.
Aliados de Temer, no entanto, minimizaram as declarações, destacando que a fala dele foi retirada do contexto. Além de dizer que ela terá dificuldades para governar se mantiver a baixa popularidade, Temer afirmou que é preciso melhorar a economia e que, quando isso acontecer, a popularidade melhora. Segundo os peemedebistas, a declaração não teria sido em tom conspiratório, mas de alerta.
— Ele viveu na pele um movimento dentro do governo para esvaziar seu trabalho na articulação política, e agora vê o mesmo acontecendo com o Levy. Ele estava apenas chamando a atenção para os erros que o governo está cometendo. São os mesmos erros e eles vêm se avolumando — avaliou um peemedebista.
Quase na mesma hora em que Temer proferia sua polêmica palestra em São Paulo, o ex-presidente Lula aconselhava Dilma, em Brasília, a se reaproximar do PMDB e reconstruir sua relação com o vicepresidente para garantir a governabilidade. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) adotou um discurso conciliatório, defendendo que o vice foi verdadeiro e falou o “óbvio” ao relatar as dificuldades do governo.
— Temer fez um diagnóstico do problema e não foi uma frase isolada. Ele fez uma constatação. E do governo, não apenas dela, a presidente Dilma. Mas ele está falando o óbvio: o governo não aguenta sangrar três anos. O governo tem que mudar procedimentos ou vai ficar mais difícil. A situação econômica é grave, e o governo tem que reagir. Ele foi verdadeiro e fez uma reflexão importante — disse Jucá.
Empenhada em tentar reconstruir sua base de apoio, Dilma sinalizou ontem que nomeará, a pedido do PTB e do PMDB, o atual presidente da Conab, Rubens Rodrigues dos Santos, para a vice-presidência de Operações Corporativas da Caixa. A cobrança da nomeação veio do líder do PTB, Jovair Arantes (GO).
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