• Abertura de inquéritos contra os ministros Edinho Silva e Aloizio Mercadante reforça movimento por reformas que estanquem a crise
Inquérito sobre 2 ministros reforça pressão por reforma
• STF autorizou apuração sobre Edinho e Mercadante, ambos próximos a Dilma
• Também acusado por dono da UTC, senador tucano Aloysio Nunes é outro que passa a ser investigado na Lava Jato
Natuza Nery, Aguirre Talento, Márcio Falcão, Gabriel Mascarenhas e Marina Dias – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A abertura de inquéritos contra dois dos principais assessores da presidente Dilma Rousseff reforçou a pressão por reformas no Planalto como única saída para superar a crise política, segundo ministros ouvidos pela Folha.
O novo motivo de preocupação é a abertura de inquéritos na Lava Jato para investigar os ministros Edinho Silva (Secretaria de Comunicação), tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, e Aloizio Mercadante (Casa Civil), como noticiou o "Jornal Nacional" de sábado (5) e o jornal "O Estado de S. Paulo".
Ambos estão entre os vários políticos citados pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, delator, como beneficiários de recursos de corrupção na Petrobras. Por isso, a Procuradoria pediu ao ministro do Supremo Teori Zavascki a abertura dos inquéritos. O objetivo é aprofundar as apurações.
Pessoa disse que deu R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma em 2014 após ter sido coagido por Edinho, que teria pedido um valor maior. Em julho, a revista "Veja" reproduziu trechos da delação de Pessoa. Segundo a publicação, ele disse ter ouvido o seguinte de Edinho: "Você tem obras na Petrobras e tem aditivos, não pode só contribuir com isso. Tem que contribuir com mais. Eu estou precisando".
Sobre Mercadante, o delator citou ter dado recursos ilícitos à sua campanha ao governo paulista em 2010. Teriam sido R$ 750 mil, sendo R$ 250 mil "por fora". Firmas de Pessoa constam como doadoras oficiais de R$ 500 mil.
Teori também desmembrou as investigações sobre a delação de Pessoa e remeteu à Justiça Federal do Paraná citações à campanha de Lula em 2006 e de Dilma em 2010.
Isso porque Pessoa também disse ter feito contribuições clandestinas nas duas ocasiões. Ele teria dito, segundo relatos, que fez repasses ilegais ao ex-deputado José de Filippi Júnior (PT-SP), que foi tesoureiro das campanhas petistas em 2010 e 2006.
O capítulo sobre Filippi foi à primeira instância porque ele não tem foro privilegiado. A Folha não conseguiu localizá-lo para comentar
Sistema nervoso
As investigações da Lava Jato já haviam apontado para o uso de recursos do esquema de corrupção na Petrobras pelo PT. Isso resultou na prisão do ex-tesoureiro da sigla João Vaccari. Mas não havia até agora nenhuma investigação formal que pudesse atingir a campanha de Dilma em 2014.
Além disso, o inquérito sobre Mercadante e Edinho atinge o sistema nervoso do Planalto. Mercadante é o braço direito de Dilma; Edinho atuava como "bombeiro" da crise.
Integrantes da cúpula do governo passaram a afirmar, nos bastidores, que a situação política está se deteriorando muito rapidamente e que só com mudanças drásticas será possível vencer a crise.
Os desgastes dos últimos 15 dias foram intensos. Falou-se em risco de queda do ministro Joaquim Levy (Fazenda); houve apresentação e recuo da CPMF; empresários deram um espécie de ultimato.
Para auxiliares, só uma profunda reforma ministerial e administrativa, com corte radical de cargos, recuperaria a gestão. "Tira todo mundo, recomeça, não sei. Mas faz alguma coisa nos próximos dez dias", disse um ministro.
Em agosto, o Planalto anunciou a redução de dez ministérios e o fim de parte dos cargos comissionados, mas até agora nada ocorreu.
Auxiliares até agora relativamente otimistas começam a ver o "cerco" se fechando. Dilma isolou-se nas últimas semanas. Reúne bem menos o núcleo político, despachando cada vez mais com um pequeno grupo. O único sempre presente é Mercadante. Mas é também dele a cabeça que setores do PMDB, do vice Michel Temer, pedem como uma das formas de resolver a crise.
A relação de Mercadante com Temer e líderes das siglas aliadas nunca esteve tão ruim. Até Lula já insistiu com Dilma pela troca por alguém com mais "sensibilidade política".
Tucano
Teori também determinou a abertura de inquérito sobre o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Pessoa disse ter repassado recursos ilícitos à campanha de 2010 do tucano, o que ele nega .
Como a maioria dos depoimentos de Pessoa ainda são sigilosos, não há detalhes sobre o caso. Não está claro, por exemplo, se os recursos seriam provenientes de corrupção na Petrobras.
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