“Ao governo, cabe abandonar o mantra obsessivo de mais e piores impostos e operar uma reforma profunda do Estado, reduzindo Ministérios, cargos comissionados, e revendo contratos. Agora é a hora da verdade. O governo não cabe mais no PIB brasileiro e precisa reavaliar todos os seus programas e conferir prioridade aos que devem ser mantidos.” Estas palavras, surpreendentemente saídas da boca do senador Renan Calheiros, são irretocáveis. Se estivesse disposta a cumpri-las, Dilma Rousseff realmente daria um primeiro passo decisivo para superar o impasse orçamentário, implementar um verdadeiro reajuste fiscal e abrir, finalmente, a perspectiva de uma ação governamental comprometida com a criação de condições para a retomada do crescimento econômico. Infelizmente, as convicções estatistas de Dilma e do PT apontam na direção oposta. O País pode se preparar, portanto, para uma dose pesada de aumentos “de emergência” na carga tributária, provavelmente “compensados” por cortes de despesas tão inócuos quanto possível.
O comportamento do governo na questão do orçamento para 2016 é bem do estilo do gênio político que Lula colocou na Presidência da República. Dilma Rousseff sempre foi mais estatista do que o próprio PT – que, na verdade, é muito mais “poderista” do que qualquer outra coisa –, mas para o segundo mandato ela cedeu à sugestão de seu mestre de colocar no comando da equipe econômica um “liberal” que pelo menos não fizesse o mercado perder o sono. Nomeou para a Fazenda um nome indicado pelo presidente do Bradesco. Mas jamais teve a intenção de levar a sério o caráter austero da proposta de reajuste fiscal que se poderia esperar de Joaquim Levy. E, para garantir que não precisaria ela própria ficar regulando cada passo do estranho no ninho, tratou de colocar no Planejamento um genuíno adepto da “nova matriz econômica”, Nelson Barbosa.
A tragicomédia do Orçamento comprova que o apito que toca na área econômica é, inquestionavelmente, o de Dilma e de seu escudeiro que responde pelo Planejamento. Nelson Barbosa tem desempenhado em relação a Joaquim Levy – a quem só os ingênuos podem ter acreditado que Dilma “delegou” o comando da área econômica – o mesmo papel que Aloizio Mercadante, da Casa Civil, sempre desempenhou em relação a Michel Temer – a quem só os ingênuos podem ter acreditado que Dilma “delegou” o comando das articulações políticas do governo. A presidente da República não gosta de política, mas gosta de mandar, por isso erra sempre.
Dilma frita Joaquim Levy nos bastidores e prestigia-o em cena aberta. Com isso consegue não agradar a ninguém, nem mesmo seu próprio partido. E as entidades e organizações sociais filopetistas, que por natureza são pouco chegadas às sutilezas da política, botam para quebrar com um ostensivo “Fora Levy” que significa exatamente o seguinte: o governo pode tudo, só não faz o que não quer, portanto pode gastar e tem que continuar gastando e mandando a conta para “as elites”. Simples assim. E quando pensam em elite colocam na lista as centenas de milhares de brasileiros, predominantemente de classe média, que se tem manifestado contra o governo nas ruas e nos panelaços. Dessa perspectiva, resulta inevitável a conclusão de que o lulopetismo tem contribuído substancialmente para fortalecer as elites.
Está coberto de razão o ilustre Renan Calheiros, portanto, quando sentencia que o governo do PT “não cabe mais no PIB brasileiro” e está obcecado pelo mantra de “mais e piores impostos”. É claro que seria muito melhor se o próprio Calheiros acreditasse no que afirma ou pelo menos se importasse sinceramente com as mazelas do lulopetismo no poder, das quais sempre fez o possível para se beneficiar. Ele certamente imagina que estar bem com o poder central pode ser útil quando a Operação Lava Jato chegar mais perto e que sua Alagoas precisa da boa vontade do Planalto, mas sabe também que muita proximidade com um governo cuja popularidade está ao rés do chão pode ser contraproducente para sua carreira política. Daí o movimento pendular que o leva de herói da Agenda Brasil a crítico severo da política de Dilma. Como ele próprio diria, a política é a arte da sobrevivência.
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