segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Temer nega conspirar contra Dilma e prega união

• Vice tenta minimizar impacto de previsão sobre risco para o governo

Apesar da declaração, auxiliares da presidente continuam a desconfiar da atuação do peemedebista nos bastidores

Após afirmar que dificilmente a presidente Dilma Rousseff chegará ao fim do mandato se mantiver baixa popularidade, o vice- presidente Michel Temer divulgou nota ontem para negar as “teorias” de que conspire contra a petista. O peemedebista disse que “a hora é de trabalho e de união” e que atua para o Brasil chegar em 2018 em melhores condições do que as de hoje. Apesar da manifestação de Temer, auxiliares de Dilma mantêm desconfiança sobre as atitudes do vice, que recentemente deixou a articulação política do governo.

Vice nega conspiração

• Temer diz que ‘ trabalha e trabalhará com Dilma para o Brasil chegar a 2018 melhor do que está hoje’ 

(Temer) Advoga que a divisão e a intriga são hoje grandes adversários do Brasil e agravam a crise política e econômica que enfrentamos” 

A hora é de trabalho e de união. Michel Temer Vice- presidente da República

Simone Iglesias - O Globo

- BRASÍLIA- O vice- presidente Michel Temer reagiu duramente ontem para afastar as especulações de que estaria conspirando para assumir a cadeira da presidente Dilma Rousseff e, em nota, negou qualquer movimento conspiratório, afirmando que trabalhará ao lado da petista até 2018, quando se encerrará o mandato, para que o Brasil fique “melhor do que está hoje”. Incomodado com as críticas, o peemedebista disse que o momento é de “união” e que as intrigas são adversárias do Brasil.

“A hora é de trabalho e de união. Apesar de seu zelo, e atento ao cargo que ocupa, não são poucas as teorias divulgadas de que suas atitudes podem levar à ideia de conspiração. ( Temer) repudiaa. Seu compromisso é com a mais absoluta estabilidade das instituições nacionais”, afirma trecho da nota da assessoria de imprensa.

O texto diz, ainda, que o vice- presidente sempre expôs suas posições políticas de forma franca e aberta e que “não se move pelos subterrâneos, pelas sombras, pela escuridão”.

“O vice- presidente... trabalha e trabalhará junto à presidente Dilma Rousseff para que o Brasil chegue em 2018 melhor do que está hoje. Todos seus atos e pronunciamentos são nessa direção. Defende que todos devem se unir para superar a crise. Advoga que a divisão e a intriga são hoje grandes adversários do Brasil e agravam a crise política e econômica que enfrentamos”, diz outro trecho.

O que mais causa desconforto em Temer é ter sua imagem associada a movimentos que podem ser considerados golpismo, especialmente porque é considerado um dos constitucionalistas mais importantes do país e também porque no começo da década de 1980 esteve na linha de frente da defesa das Diretas Já, segundo um peemedebista próximo ao vice. Soma- se a essas duas questões o fato de presidir o PMDB, partido nascido da luta pela democracia.

“Sua única cartilha é a Constituição. Especialmente a atual, que tem a democracia como seu fundamento estruturante. ( Temer) é legalista por convicção e por vício profissional. Seu limite é a lei. Sabe até onde pode ir”, diz mais um trecho da nota.

Apesar das explicações públicas do vice neste fim de semana, há mal- estar no entorno de Dilma com suas declarações. Uma fonte do Planalto disse ao GLOBO que não adianta o peemedebista culpar as intrigas, se participou voluntariamente de uma reunião com grupos que são contra o governo.

A relação entre Dilma e Temer, juntos no comando do país desde 2011, nunca foi de extrema confiança, muito menos de amizade, e vem se deteriorando desde o começo deste ano, ora motivada por brigas entre petistas e peemedebistas, ora por intrigas palacianas, e ora por declarações mais duras do próprio vice sobre as dificuldades enfrentadas pelo governo. De um mês para cá, a parceria esfriou completamente.

Na última quinta- feira, a um grupo de empresários paulistas ligados ao movimento oposicionista “Acorda Brasil”, Temer declarou que é difícil Dilma resistir até o fim do mandato com a popularidade em baixa como a registrada atualmente em pesquisas. O vice afirmou na ocasião que nada poderá fazer se a aprovação ao governo não subir. Segundo as últimas pesquisas, a popularidade da presidente está em torno de 7%. Nesse mesmo evento, ele também disse que não acreditava que Dilma renuncie, por ser uma mulher “guerreira”.

— Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. Se a economia melhorar, acaba voltando um índice razoável — afirmou Temer na quinta- feira passada: — Mas, se ela continuar com 7%e 8% de popularidade, fica difícil — acrescentou.

As declarações de Temer causaram forte reação entre os petistas e no governo, que consideraram sua fala “desastrosa”. Apesar da análise interna, ministros petistas disseram publicamente que a fala do vice foi tirada do contexto, numa tentativa de evitar um clima de conflagração no governo.

Antes desse episódio, no começo de agosto, auge do isolamento político do governo, o vice havia dito que o Brasil precisava de “alguém” capaz de unificar o país. Ao fazer um apelo público instando os políticos a se unirem contra a crise, afirmou:

— É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo e eu estou tomando esta liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o país.

A posição gerou críticas internas e reacendeu a desconfiança entre petistas e peemedebistas, especialmente entre ministros e auxiliares presidenciais que viram na frase um “ato falho” de Temer, que, segundo eles, estaria tentando se colocar no lugar de Dilma. Um dia depois da declaração, ele colocou o cargo na articulação política à disposição, mas Dilma disse que nada havia mudado.

Distanciada de Temer e sem uma ponte com os peemedebistas, Dilma foi aconselhada pelo ex- presidente Lula a tentar uma reaproximação. Ela, então, chamou Temer para um almoço na semana passada. Convidou o vice a reassumir a articulação política, pedido rejeitado prontamente.

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