Quem deu a senha foi o vice-presidente da República, Michel Temer: “... confesso que nem eu, nem o governo, temos uma estratégia”. Apertem os cintos, o piloto sumiu. Em Brasília, nos corredores, uma pergunta é recorrente: onde vamos parar? Qual é a saída para a presente crise? Lideranças políticas, empresariais, sociais, jornalistas e intelectuais assistem cada vez mais perplexos aos desdobramentos da crise. Há, na verdade, um impasse diagnosticado. Todos concordam que o governo Dilma perdeu as condições mínimas necessárias para governar. Não tem apoio na sociedade e no Congresso, não tem credibilidade e confiança junto ao mercado, não tem iniciativa, liderança e comando, não tem coordenação e estratégia claras. Mas as alternativas são complexas e delicadas.
Não bastando as graves facetas econômica, política e ética desse difícil momento nacional, o governo Dilma se esmera em produzir fatos adicionais negativos.
Além disso, a presidente, com seus arroubos verbais improvisados, imprecisos e confusos, com frases desconexas e que agridem a língua pátria, está transformando sua figura pública, que já detém a rejeição de 80% da população, em uma caricatura de si mesma. As pérolas retóricas de nossa presidente bombam nas redes sociais. Isso contribui para minar a autoridade presidencial ainda mais.
Agosto, que tem tradição de patrocinar más notícias no Brasil, terminou deixando uma herança nada saudável. Na economia, não houve notícia boa. Ficamos sabendo que a produção nacional recuou 1,9% no segundo trimestre. A agropecuária, que era exceção até então, teve desempenho negativo de 2,7%. A indústria continua ladeira abaixo na marcha da desindustrialização com um recuo de 4,3%. O consumo das famílias inverteu o sinal, fruto do endividamento excessivo e da inflação, caindo 2,1%. O investimento, motor do desenvolvimento, despencou 8,1%. Vamos dar uma marcha à ré em 2015 de cerca de 3%.
Para complicar mais o cenário econômico, o governo Dilma, no espaço de 72 horas, protagonizou um espetáculo digno dos três patetas. Anunciou de forma atabalhoada e sem coordenação o aumento de impostos por meio da volta da CPMF, e rapidamente voltou atrás, diante da reação do meio político e empresarial. Coisa de amador. Se, portanto, o governo Dilma não tem credibilidade, faz por merecer, com louvor.
Culminamos, na última semana, sabendo que o desequilíbrio fiscal do governo federal é mais grave do que já se imaginava. O governo Dilma mandou o Orçamento de 2016 para o Congresso Nacional, de forma inédita, com um déficit primário de mais de R$ 30 bilhões. Analistas do mercado acham que pode chegar a R$ 60 bilhões. Isso é fatal para um país que, em 2014, teve um déficit nominal (que soma as despesas financeiras) de 7% do PIB (mais de R$ 380 bilhões) e que está ameaçado de rebaixamento pelas agências internacionais de classificação de risco.
Como disse Temer, não há estratégia. Na verdade, estamos no mato sem cachorro, rumo ou bússola.
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Marcus Pestana é deputado federal (PSDB-MG)
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