• O "novo" governo Dilma nasceu envelhecido e não suporta mais um ano de crise, por isso precisamos trabalhar pelo consenso
Tenho em mente que momentos de crise, mais do que nunca, exigem ideias. Ficar parado, esperando o bonde passar, pode representar um risco muito grande. Para os homens públicos, isso vale mais ainda, uma vez que os prejuízos que podem resultar de uma crise política não resolvida, mexendo com a economia, com o dia a dia de todos e paralisando o país, são imensuráveis.
O momento brasileiro tem muito disso. É preciso buscar soluções para que a moldura não seja totalmente comprometida. Não seria a hora, pergunto, de discutirmos abertamente uma solução política negociada, passando por um governo de união nacional e a implantação do sistema parlamentarista?
Não se deve temer essa discussão. O agravamento da crise nacional precisa ser tratado com ideias novas e com disposição para se buscar um modelo novo, que afaste a tônica do "arranjo político" em meio ao Congresso também desgastado.
Com o parlamentarismo, uma crise política não se arrastaria por tanto tempo. O voto de desconfiança, ou moção de censura, é uma das características mais importantes desse sistema, que, na atual situação, teria que vir acompanhado de uma gestão de conciliação nacional.
Ele traria um plano de consenso no qual seriam incluídos pontos como uma redução considerável dos cargos comissionados e do número de ministérios e a garantia da meritocracia nos vários níveis de gestão.
Também incluiria um projeto econômico exequível com um ministro da Fazenda com total credibilidade e autoridade para dialogar com os diferentes agentes públicos e privados, como Pedro Malan e Fernando Henrique Cardoso.
O ministro poderia ter também o perfil de Antonio Palocci ou de Mario Henrique Simonsen, capazes de impor segurança e autoridade, e não o de um tecnocrata, como o atual ministro, que não passa de uma indicação de um banqueiro.
É difícil –ou mesmo impossível– que isso seja alcançado, pois seria preciso uma mudança constitucional? Se ficarmos presos às convenções de uma "normalidade" de pensamento que não leva a lugar algum, apenas uma coisa é certa: o agravamento ainda maior da crise.
Pensar num caminho de consenso, com o parlamentarismo e um primeiro-ministro de perfil irretocável, com bom trânsito em todas as esferas e respeitabilidade inquestionável, pode ser a alternativa para um recomeço.
Com mais de quatro décadas na vida pública, acho que é meu dever apresentar essa sugestão, reforçando, assim, um alerta que venho fazendo às diversas forças políticas –e não apenas ao meu partido, o PSDB– antes mesmo da posse da presidente Dilma Rousseff.
Em diversos momentos, inclusive numa carta que enviei em março ao ex-presidente Fernando Henrique, ao presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, ao também senador José Serra e ao líder do PT no Senado, Humberto Costa, defendi o caminho do entendimento, com um programa mínimo de consenso, como a solução para uma crise que cada dia aperta mais.
Em vez de fazer o governo sangrar ainda mais, devemos trabalhar por uma solução negociada, que deve vir com o parlamentarismo e um governo de união nacional.
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Elias Gomes, 64, é prefeito de Jaboatão dos Guararapes (PE) e vice-presidente estadual do PSDB de Pernambuco
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