segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Aécio Neves - Sem rumo

- Folha de S. Paulo

Se questionados, provavelmente 9 em cada 10 brasileiros achariam o atual governo um dos mais fracos e ineptos de toda a história do país. O décimo teria certeza.

Contrariando a máxima de que toda unanimidade é burra, vai se consolidando no país a convicção de que vivemos um período de desgoverno sem paralelo, agravado pela reiterada incapacidade de quem o comanda de se colocar à altura da complexidade da crise. Crise, aliás, urdida e fomentada nas hostes do partido governista, sob as bênçãos de suas maiores lideranças.

O que mais assusta é a ausência de perspectivas. Não há uma agenda visível e factível para o país.

Para onde vamos, afinal? O que estamos assistindo, entre assustados e indignados, é a erosão crescente do nosso futuro. O presente, por sua vez, é uma incógnita que se sustenta na falta de uma coordenação efetiva. Este é um governo que reage apenas a espasmos, quando se sente acuado.

Foi preciso perder a nota de crédito de uma agência de risco para anunciar o esforço necessário para apresentar um Orçamento que não fosse deficitário. O pacote improvisado está longe de reduzir o ônus do Estado obeso e ineficaz que a nação é obrigada a carregar e impõe sacrifícios a quem já paga uma das taxas de tributação mais altas do planeta.

O receituário de plantão é um só: aumentar a arrecadação com mais impostos. Já pressionado pela conjugação de inflação e recessão, o brasileiro se vê forçado a pagar ainda mais ao Estado. A verdade é que parece que a presidente não quer mudar nada. Ao que tudo indica, ela nunca achou que estivesse errada. Para que tenha êxito, qualquer programa de ajuste depende da confiança em quem o conduz.

Mas como confiar em quem usou e abusou da mentira, omitindo do país uma realidade que já se anunciava extremamente grave, apenas para vencer as eleições? Como confiar em um governo que diz uma coisa hoje e amanhã age de forma contrária?

Os movimentos erráticos proliferam em todas as direções, desnorteando empresários, investidores e cidadãos. Os ministros da área econômica divergem sem constrangimento, as bases de sustentação da atual administração clamam contra as medidas e o próprio Planalto dá sinais ambíguos sobre as políticas e medidas que defende em público.

Nas relações conflituosas com o Poder Legislativo e no desrespeito com as forças legítimas da oposição, o governo tem sido pródigo em contrariar todos os fundamentos da boa política.

O que mais falta acontecer?

P.S.: Em meio a todo o debate sobre a grave crise econômica, chama a atenção o ensurdecedor silêncio do ex-ministro Guido Mantega. Nem uma palavra em defesa da obra que conduziu sob as bênçãos dos presidentes Lula e Dilma.

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Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB

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