Por Andrea Jubé e Raymundo Costa - Valor Econômico
BRASÍLIA - A reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff pretende anunciar na quarta-feira contempla um rearranjo completo na coordenação política. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desponta como ponta-de-lança na relação com o PMDB, com a missão de esvaziar o movimento pelo impeachment. O ministro Ricardo Berzoini assume a Secretaria Geral da Presidência, que vai incorporar a articulação política. Ele atuará na interface direta com o Congresso Nacional junto com o assessor especial Giles Azevedo. Do núcleo mais próximo a Dilma, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, segue no cargo, mas com a pasta turbinada e empoderada para reforçar a articulação.
Lula se consolida como interlocutor privilegiado no contato direto com o vice-presidente Michel Temer e os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Nesse período de crise aguda, decisivo para os rumos do ajuste fiscal e para barrar o impedimento de Dilma, Lula intensificará as visitas a Brasília. Ministros do PT lhe pediram que faça reuniões com aliados na capital semanalmente. Nos últimos 15 dias, Lula esteve com Temer e Eduardo Cunha.
O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, segue no comando da pasta, mas agora avalizado por Lula, com quem se reuniu na sexta-feira, logo após o encontro do ex-presidente com Cunha. O café da manhã com Mercadante aconteceu depois do jantar de Lula com cinco ministros do PT, que se queixaram do trato com o correligionário. Dilma disse a Lula que mantém Mercadante porque confia nele, ele é dedicado, comprometido com o governo e porque substitui-lo neste momento poderia gerar mais instabilidade política.
No encontro com Dilma, Lula reforçou à antecessora que aproveite a reforma para desmontar o "ministério de amigos" e formar um gabinete onde os ministros tenham verdadeira interlocução com as bancadas.
Ricardo Berzoini, que já reforçava a articulação política de maneira informal, deverá assumir o lugar de Miguel Rossetto na Secretaria Geral, que no rearranjo administrativo absorverá a Secretaria de Relações Institucionais (SRI). A mudança, contudo, é uma operação complexa e delicada, porque implica a Dilma não apenas afastar um amigo, que foi seu coordenador de campanha, mas um expoente da Democracia Socialista (DS), a segunda principal tendência do PT depois da Construindo um Novo Brasil (CNB), de Lula.
Um petista com trânsito no Planalto lembra que Rossetto tem sido atuante no diálogo com os movimentos sindicais, em especial com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), da qual é fundador, e afastá-lo neste momento em que os sindicalistas podem ser chamados às ruas para defender Dilma seria um erro.
Mas neste momento de turbulência máxima com o Congresso, Berzoini é peça-chave na relação com os parlamentares. Como ex-presidente do PT e ex-ministro da coordenação política e da gestão Lula, Berzoini tem boa relação com Michel Temer, com outros dirigentes de partidos e aliados de modo geral. Ele volta para a coordenação, desde que Dilma lhe dê poderes para garantir a execução dos acordos com os aliados.
Da cota de amigos da presidente, Kátia Abreu - que chegou a ser cotada para a cadeira de Mercadante - seguirá na Agricultura, que deverá incorporar a Secretaria da Pesca. Mas Kátia revelou a interlocutores que a presidente lhe pediu que reforce a articulação política. No fim de semana, a ministra acionou lideranças do PMDB para tratar da reforma ministerial. Dilma deve se reunir com Temer ainda hoje para tratar do tema.
Na fase aguda da crise, Kátia se aproximou ainda mais da presidente, com quem tem se reunido até três vezes por dia. Senadora reeleita pelo Tocantins, tem bom trânsito com os senadores e parlamentares ligados ao agronegócio. Mas dificilmente ajudará no trato direto com o PMDB, onde é considerada "cristã-nova" e ingressou por causa da amizade com Temer. Kátia fez desafetos no PMDB. Ela se indispôs com setores do partido, quando assumiu o ministério e afastou nomeados de caciques da sigla.
Em outra ponta, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fica para assegurar a aprovação do Orçamento e a recriação da CPMF. Nesta segunda-feira, ele já tem novo encontro com Renan Calheiros para apresentar mudanças no pacote fiscal. Levy também articula com o Congresso uma nova reforma da Previdência.
Apesar das especulações feitas na base aliada do governo, especialmente no PT e no PMDB, a presidente Dilma não pensa em fazer mudanças na área econômica nesta reforma. No PT e no PMDB surgiram especulações de que Lula iria sugerir o nome do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda. A troca não está em pauta para Dilma. Na cúpula do dois partidos, PT e PMDB, a avaliação é que a entrada de Meirelles poderia dar "um refresco" para o governo, mas provavelmente não seria a solução. Seguindo apurou o Valor, Meirelles é uma hipótese considerada nas duas siglas para o pós-Dilma, na eventualidade de afastamento da presidente.
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