segunda-feira, 21 de setembro de 2015

José Roberto de Toledo - A volta do bumerangue

- O Estado de S. Paulo

Se é difícil para Dilma Rousseff ir até 2018 “com 7% ou 8% de popularidade”, tampouco seria fácil para o autor da frase concluir o mandato que por acaso venha a herdar só com 11%. Essa é a parcela da população que acha Michel Temer ótimo ou bom como vice-presidente, segundo pesquisa inédita do Ibope divulgada com exclusividade aqui. Temer e Dilma estão tecnicamente empatados em desaprovação. Na última pesquisa Ibope divulgada, em junho, ela tinha 9%, com margem de erro de dois pontos porcentuais.

A dificuldade de a presidente terminar no prazo legal o mandato para o qual foi eleita foi ressaltada pelo próprio vice há 20 dias, durante entrevista à coordenadora de um dos muitos movimentos de classe média alta paulistanos que defendem o impeachment de Dilma: “Se continuar assim, vou dizer a você, com 7%, 8% de popularidade, fica difícil passar três anos e meio”.

Como qualquer um imaginaria, o desarranjo verbal percutiu como uma granada – até porque não foi o primeiro. Desde então, Temer afastou-se para longe dos holofotes brasilienses. Bem longe. Foi em missão oficial à Rússia, onde posou para foto negociando com o vice-primeiro-ministro. Vice com vice, subentendia-se da legenda. Mas Temer não foi para seu Gulag sem antes conversar separadamente com dois eternos presidenciáveis do PSDB. Não falaram sobre impeachment, garantem os três. “Da, konechno.”

Temer passou a ser a nota em comum entre os sempre dissonantes caciques tucanos desde que eles avaliaram que o PSDB não deveria assumir publicamente a vanguarda do impeachment. Para não dar de mão beijada a Dilma o discurso de que ela é vítima de golpe – e, de quebra, deixar com o PMDB o desgaste da estabilização. Como raramente fazem, Aécio Neves, Fernando Henrique, José Serra e até Geraldo Alckmin concordaram que é melhor o PMDB comandar o processo, segundo revelou a repórter Daniela Lima, no sábado.

Não chega a ser uma conclusão original. Até o Planalto sabe que sem o PMDB o impeachment não alcançará os 342 votos necessários na Câmara dos Deputados. Mais importante, sem o aval do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB), o pedido para sacar Dilma nem sequer entraria na pauta de votação. Daí que Cunha e o PMDB estão sendo cortejados simultaneamente pelo PSDB e por Lula da Silva para fazer o oposto. Mesmo que tudo venha a ser acertado por cima, faltou combinar por baixo. Qual a opinião pública sobre os chefes do PMDB? A questão é pertinente e oportuna. Afinal, eles comandariam o processo de impeachment e assumiriam a frente do governo – com os tucanos atrás – caso Dilma entregue a faixa mais cedo.

Entre 12 e 16 de setembro, o Ibope perguntou: “Pelo que sabe ou ouve falar, como avalia a atuação do Michel Temer, vice-presidente da República? É ótima, boa, regular, ruim ou péssima?”. Só 2% ficaram com a primeira opção; 9%, com a segunda; 29%, com a terceira; 14%, com a quarta; 26% com a última. Isto é: 11% de ótima/boa contra 40% de ruim/péssima e 29% de regular. Os outros 21% não responderam. Não têm ideia de quem seja Temer nem do que é capaz. É nesses que ele pode ter alguma esperança. Na maioria que tem ideia, o vice é como a presidente, quase uma unanimidade. A popularidade de Temer varia de 7% no Sul a 12% no Nordeste; de 10% entre os mais pobres a 11% entre os mais ricos. Popularidade é bumerangue: vai longe, mas volta na orelha.

E os presidentes da Câmara e do Senado, que ocupam o terceiro e o quarto lugares na linha sucessória de Dilma? Como são avaliados? Do mesmo jeito que a primeira e o segundo da linha: Cunha tem 11% de ótimo/bom e 40% de ruim/péssimo; Renan Calheiros, 8% de ótimo/bom e 40% de ruim/péssimo. São ilustres desconhecidos para 26% e 25% da população, respectivamente.
O pós-Dilma, se vier, não será fácil como seus vendedores dão a entender que será.

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