• Nunca se deve reduzir a proteção contra eventual fuga de divisas, mais ainda quando a crise que faz o dólar disparar tem causas políticas visíveis
Na história da economia brasileira, há uma longa sucessão de crises deflagradas pelo estrangulamento do setor externo — quando faltam divisas para pagar compromissos financeiros e comerciais, e vem a moratória (default). Já a atual crise tem o ineditismo de não envolver escassez de divisas. Foi deflagrada por erros cometidos pela política econômica praticada do segundo governo Lula, com Dilma na Casa Civil, ao primeiro mandato da ex-ministra. O Brasil quebrou em reais, devido à irresponsabilidade fiscal.
Mas há uma característica comum a todas as crises: a disparada do dólar. Nos últimos dias — antes de recuar —, a taxa cambial passou dos 4,00, apontou para 5,00, numa sucessão de desvalorizações das maiores desde o Plano Real, em 94.
Confirma-se que a taxa de câmbio é apenas um termômetro a sinalizar que algo não vai bem no Brasil, e não só na economia. Faz sentido a desvalorização do real, porque, diante de grandes riscos em um país, a tendência das pessoas jurídicas e físicas é procurar se desfazer da sua moeda.
Na quinta-feira, a cotação do dólar voltou para abaixo dos R$ 4, quando o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ameaçou começar a vender as elevadas reservas externas (US$ 370 bilhões), para conter a disparada da moeda. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deu declaração no mesmo sentido.
Será um erro se o fizerem. Há uma infindável discussão sobre a acumulação de reservas, porque existem reflexos fiscais na sua formação: aplicadas no mercado internacional, elas rendem juros bem inferiores aos que o país paga pelos títulos de dívida pública que lança no mercado interno para enxugar a expansão dos meios de pagamentos provocada pela entrada de dólares. Que foi intensa no ciclo de crescimento das exportações de matérias-primas para a China.
O xis da questão é que nunca vale a pena reduzir a barreira de proteção do país contra qualquer movimento maior de fuga de capitais. Até porque, as contas externas do país não sinalizam qualquer catástrofe, ao contrário: a grande desvalorização do real este ano, na faixa dos 50%, promove forte ajuste externo (o déficit em conta corrente, ou seja, comércio de mercadorias mais juros e serviços, de 4,4% do PIB no ano passado deve cair para 3,7%, segundo o BC; e, por isso, os investimentos diretos, embora em retração, poderão cobrir este déficit em 2015).
De mais a mais, é cada dia mais explícita a raiz política da crise econômica: por fé ideológica, Dilma e o PT se recusam a fazer o ajuste fiscal pelas despesas, preferem aumentar ainda mais a absurda carga tributária de 37% do PIB, e com um imposto de péssima qualidade, a CPMF. Adicione-se ao quadro um Congresso hostil a uma presidente de baixa popularidade. O governo tenta agora remontar a base parlamentar pelo velho caminho do fisiologismo. Mas as incertezas continuam, e o câmbio é reflexo delas. Dilapidar reservas, ainda mais nestas circunstâncias, é grave equívoco.
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