• Avanço de 2,7 pontos porcentuais na taxa de desemprego no último ano superou as estimativas mais pessimistas; número de mulheres que integram a força de trabalho, seja empregadas ou buscando um trabalho, cresceu em um ritmo maior que o de homens
Mário Braga - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O avanço de 2,7 pontos porcentuais na taxa de desemprego no último ano é classificado por especialistas ouvidos peloBroadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, como muito intenso, supera as estimativas mais pessimistas e mostra que a deterioração do mercado de trabalho surpreendeu negativamente, acompanhando o desempenho pior que o esperado da economia ao longo de 2015.
A eliminação de postos de trabalho e a diminuição da renda levaram cada vez mais pessoas, principalmente as mulheres, a buscar uma ocupação, de forma a compensar o risco ou mesmo a demissão dos chefes das famílias.
Após ficar em 4,7% em outubro de 2014, o desemprego iniciou uma firme trajetória de alta até bater 7,6% em agosto e repetir a taxa em setembro deste ano, segundo revelou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nesta quinta-feira. É o maior avanço já registrado em um ano na série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que teve início em março de 2003 e cobre as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife.
Sem precedentes, o avanço do desemprego no período foi muito superior ao que os economistas imaginavam no início do ano. Em janeiro, as projeções mais pessimistas apontavam uma taxa de desocupação de até 6% em 2015. Em março, o desemprego já estava em 6,2%. "Esse ajuste foi feito num período de tempo muito pequeno. É um sinal de que realmente os empregadores já não estavam vendo um quadro de recuperação e, por isso, resolveram fazer um corte forte e imediato na força de trabalho", avaliou a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour.
As demissões crescentes são apenas um dos fatores que pesam para aumentar o desemprego entre os brasileiros. O economista da RC Consultores, Thiago Biscuola, aponta outra razão: o aumento de pessoas dispostas a trabalhar, a chamada População Economicamente Ativa (PEA). "Havia pessoas se ausentando do mercado de trabalho, seja para estudar ou porque não precisavam, já que o chefe de família conseguia pagar todas as contas. Como a situação mudou, mais gente está procurando um trabalho, o que contribui para este salto no desemprego", explicou.
O total de vagas eliminadas no País ultrapassou a marca de 1,2 milhão nos 12 meses até setembro de 2015, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta sexta-feira (23). A indústria de transformação e a construção civil, setores que sentiram primeiro os efeitos da desaceleração da economia, respondem juntas por 942 mil empregos a menos no período, 76% do total.
Entre setembro de 2014 e o mesmo mês deste ano, a PEA avançou 1,0%, enquanto a População Ocupada (PO), formada por quem tem emprego ou trabalha por conta própria, recuou 1,8%. O principal fator que tem levado as pessoas a voltar à força de trabalho é a diminuição da renda das famílias, explica Biscuola, seja porque alguém foi demitido ou porque os reajustes salariais não estão acompanhando a inflação. "A deterioração do quadro econômico também faz as pessoas terem mais receio, por isso muitas voltam a procurar emprego prevendo um futuro mais incerto e talvez mais difícil", acrescenta o especialista.
A análise dos dados do IBGE feita pelo Broadcast reforça esta análise. O desemprego subiu mais entre os chefes de família isso é sinônimo de homens, passando de 2,8% em setembro de 2014 e chegando a 4,8% em setembro deste ano. No mesmo sentido, é possível perceber que o número de mulheres que integram a força de trabalho, seja empregadas ou buscando um trabalho cresceu em um ritmo maior que o de homens. Na comparação com setembro de 2014, sem ajuste, a PEA feminina avançou 1,25%, enquanto a masculina teve alta de 0,83%. "A função de chefe de família ainda é muito concentrada nos homens. Na hora que se tem aumento de incertezas e mais demissões, as mulheres são mais incentivadas a procurar emprego", explicou Biscuola.
Informalidade. A taxa de desemprego só não subiu ainda mais porque muitos dos demitidos ou aqueles que não conseguiram ser contratados decidiram encontrar uma solução sem depender de um empregador. De setembro de 2014 a setembro de 2015, aumentou em 2,6% o contingente de quem trabalha por conta própria. Para O economista da Tendências Consultoria Integrada, Rafael Bacciotti, o aumento desse tipo de atividade no último ano é muito significativo. "A perda de dinamismo da economia afeta a contratação por carteira assinada e, como alternativa, os trabalhadores se alocam na informalidade ou no pequeno empreendimento, com ou sem empregado", afirmou. Biscuola, da RC Consultores, também destaca esta tendência no mercado de trabalho brasileiro. "Quem é demitido, por exemplo, não vai ficar parado. Eles usam o dinheiro da rescisão ou o que têm na poupança e abrem o próprio negócio", exemplificou.
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