• Ex-presidente nega acordo para ajudar presidente da Câmara, mas diz que governo precisa dele para pautas do interesse de Dilma
Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que, em vez de querer “afundar” o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em função das investigações da Operaçao Lava Jato, espera “apenas” que o peemedebista coloque em votação projetos de interesse do governo. Para Lula, Cunha “tem que ter o direito de defesa” tanto quanto ele próprio ou a presidente Dilma Rousseff.
“Enquanto ele for presidente da Câmara, ele vai determinar a pauta do Congresso Nacional e nós temos interesse em aprovar não só parte do ajuste, aprovar a CPMF, o Orçamento, mas aprovar outras medidas que estão lá que são importantes (...) Ao invés de ficar querendo afundar ele, eu quero é que ele coloque em votação as coisas e deixe o processo seguir naturalmente. E quando for julgado, ele vai pagar o preço. É apenas isso que eu quero”, afirmou o ex-presidente à Rádio Metrópole, de Salvador.
Lula defendeu o direito de defesa do peemedebista. “O Eduardo Cunha tem que ter o direito de defesa que eu quero pra mim, para Dilma, para todo mundo. Ele tem que ter apenas o direito de se defender. E se ele for culpado, ele vai pagar como todo mundo tem que pagar nesse País”, disse.
O petista declarou não haver qualquer tipo de acordo com Cunha, como foi noticiado recentemente. Pelo acerto, o governo salvaria Cunha da cassação mesmo após revelação de contas secretas dele na Suíça e, em troca, o deputado frearia os processos de impeachment contra Dilma. “Não tem acordo, porque eu não tenho nem mandato para fazer acordo. O que eu tenho é liberdade para conversar com todo mundo”, disse.
O ex-presidente destacou que estava reunido com a bancada do PT, em Brasília, discutindo a pauta de votações no Congresso, quando saíram as notícias de um acordo costurado por ele com Cunha. “E eu sou obrigado a responder isso? Alguém pergunta assim para mim: ‘presidente, está pronto o acordo?’ Mas que acordo? Eu estou cansado de ilações, não faço política por ilações.”
Lava Jato. Ao ser questionado sobre as referências a seu nome em investigações da Operação Lava Jato, Lula disse estar “tranquilo”. “O papel da oposição é tentar matar o seu adversário. Se não posso na política, vou tentar algum outro jeito. Antigamente, se esperava atrás de uma moita e matava.”
O ex-presidente alegou que a possibilidade de ele ser candidato a presidente da República em 2018 preocupa seus adversários políticos. “Eles já estão preocupados com 2018, em evitar a possibilidade de o Lula voltar – e eu nunca disse a ninguém que vou voltar (...) Sou muito pragmático em Brasília, sinceramente gostaria que não fosse eu o candidato outra vez. Gostaria que nós tivéssemos uma pessoa mais nova, mais competente. O Brasil precisa de novas lideranças”, afirmou.
Reiterou ainda que, apesar do que diga a oposição, o PT não está “morto” e fez uma referência indireta à disputa na capital paulista em 2016. “As pessoas são burras de não perceber que cada eleição é uma eleição. O cara não vai votar no prefeito pensando na presidenta não.”
Estelionato. O ex-presidente falou à rádio que Dilma foi obrigada pelas circunstâncias a fazer o ajuste fiscal, mesmo depois de ter dito, durante a campanha, que ajuste era “coisa de tucano”. “Dilma dizia que ajuste era coisa de tucano e que ela não ia mexer nos direitos dos trabalhadores. E ela foi obrigada pelas circunstâncias políticas”, disse.
Segundo Lula, “a presidente Dilma foi obrigada a manter uma política de subsídio importante para garantir o emprego e outra de desoneração muito grande. Chegou no fim do ano, você percebe que a despesa está um pouco maior do que a receita, então, você é obrigado a parar por uma questão de responsabilidade e a Dilma parou”.
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