Por Raphael Di Cunto – Valor Econômico
BRASÍLIA - Em movimento para pressionar o governo e enfraquecer o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani (RJ), PP, PTB, PSC e PHS romperam ontem o bloco com o PMDB e formaram a maior bancada, com 82 deputados. Picciani nas últimas semanas se tornou um dos principais interlocutores do Palácio, ganhou duas pastas na reforma ministerial e se posicionou para suceder Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Casa.
O pemedebista, que antes liderava 149 deputados, ficará no comando apenas do PMDB e PEN, que juntos possuem 67 parlamentares, sem contar os pemedebistas que fazem oposição ao governo e não seguem a orientação do líder nas votações. Para tentar demonstrar força, ele iniciou coleta de assinaturas para continuar à frente da bancada em 2016, disputa que só ocorreria em fevereiro. A recondução o cacifaria para concorrer à presidência da Casa.
Aliados de Picciani viram na implosão do grupo uma articulação de Cunha, que montou o bloco para se eleger presidente da Casa e tem divergido do líder desde que foi para a oposição e o aliado se aproximou da presidente Dilma Rousseff. Segundo relato de dois deputados, Picciani e Cunha tiveram uma conversa "dura" na terça-feira, quando o líder soube do rompimento, mas que acabou pacificada.
Ao Valor, Picciani negou a discussão e o presidente da Câmara disse que o relato não é verdadeiro. "Ao contrário, evitei uma dissolução litigiosa", afirmou.
As conversas para romper o bloco ganharam força anteontem, logo após a reforma ministerial, quando PTB, PP, PSC e PHS se sentiram alijados das negociações e decidiram "expulsar" o PMDB do bloco. "O Picciani vendeu gato por lebre. Disse que tinha 150 votos e vai entregar 40", disse um dos líderes do grupo. A pedido de Cunha, para não expor o partido, os líderes acertaram que o discurso seria de que a iniciativa partiu do PMDB.
O bloco dos insatisfeitos quer negociar sozinho com o governo, sem que o PMDB seja o principal interlocutor e sem seguir as orientações do líder no plenário - que, para os dissidentes, só respeitava as posições dos pemedebistas e ignorava os interesses de outros partidos do grupo.
Conforme o Valor mostrou na segunda-feira, PP e PTB tem taxa de fidelidade ao governo de menos de 50% este ano e não foram contemplados na reforma ministerial, que atendeu apenas PMDB e PDT. Os dois partidos negociam a indicação de aliados para postos chave do segundo escalão do governo desde o início do ano.
"Não é nada contra o PMDB nem contra o Picciani, temos que discutir a relação com o governo", afirmou o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). O novo bloco, que é maior que PMDB e PT, ainda não decidiu seu líder nem posição em relação ao governo - enquanto PTB e PP têm ministros e são, em teoria, da base aliada, PHS e PSC se declaram independentes.
O líder do PMDB agiu para estancar a perda de força e dois aliados -Washington Reis (RJ) e Carlos Gaguim (TO) - passaram o dia no plenário atrás de assinaturas pela reconduzi-lo na função. O grupo de oposição, que na semana passada reuniu 22 deputados em um manifesto contra o "toma lá dá cá" da indicação de ministros, é quase todo contra.
O argumento dos oposicionistas é de que o partido decidiu em fevereiro que o voto seria secreto, sem listas que pudessem constranger os parlamentares, e que a recondução só seria possível com apoio de dois terços da bancada - ou 44 deputados. "Essa lista é desnecessária. Mostrar força é no plenário, não no papel", disse um dos líderes dos oposicionistas, Lúcio Vieira Lima (BA).
A movimentação de Picciani também incomodou os pemedebistas de Minas Gerais. Leonardo Quintão, que tinha a promessa de apoio dos deputados do Rio para concorrer a líder em 2016, foi dos mais irritados. "Foi uma surpresa, hoje o partido está em guerra interna. Não podemos ter alguém que venha a liderar apenas 38 deputados, precisa ser o líder de todos", afirmou.
Dos sete deputados do PMDB de Minas, só dois seguiram o líder e registraram presença na sessão do Congresso para votar os vetos presidenciais - outros dois estavam em viagem. Quintão diz que a decisão de apoiar ou não Picciani será decidida pelos sete na próxima semana.
Já o grupo de Picciani afirma contar com mais de 40 assinaturas - sem dar os nomes- e defende que não é necessário nem dois terços para eleger o líder. "O apoio de 34 deputados é suficiente. O acordo que vale é o da maioria, os dois terços era compromisso de quem perdeu a disputa", disse Washington Reis, em referência aos deputados que concorreram contra Picciani e, em troca de apoio, concordaram em não tentar a reeleição.
Ontem a bancada do PDT, com 19 deputados, também enfrentou disputa pela liderança do partido e elegeu Afonso Motta (RS) em substituição ao deputado André Figueiredo (CE), empossado ministro das Comunicações. Motta era o favorito do presidente do PDT, Carlos Lupi, e de Figueiredo e acabou eleito em um acordo para que o líder em 2016 seja Weverton Rocha (MA).
Motta, mais ligado ao governo, concorreu contra Marcelo Matos (RJ), do grupo que prega independência ao Planalto e que acabou desistindo da disputa para não comprometer a eleição de Rocha.
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