O ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, está indignado. Em evento sobre radiodifusão, ele se queixou da “intolerância política extrema” que, em sua opinião, vigora hoje no País. “Chegamos a um extremo onde não tem ética, não tem limite, é um jogo de vale tudo”, lamentou Edinho.
Faz algum tempo que a estratégia do governo petista é a da vitimização. Desde que a crise que envolve o PT e a presidente Dilma Rousseff se acentuou, os porta-vozes do partido e seus simpatizantes alegam que estão sendo atacados por suas virtudes, isto é, por serem, segundo se consideram, os redentores dos pobres e desassistidos – algo que, de acordo com essa narrativa fantástica, a “elite” jamais aceitou.
Nos últimos tempos, o coitadismo petista atingiu ares de tragédia. Já houve quem se dissesse pronto para uma “guerra” para enfrentar os supostos algozes do partido, como fez um líder sindical diante da própria Dilma, em pleno Palácio do Planalto. O próprio ex-presidente Lula também se apresenta frequentemente como o defensor da democracia contra “eles”, pronome que o demiurgo petista costuma usar para se referir a todos aqueles que não lhe dizem amém. “Eu quero paz e democracia, mas, se eles querem guerra, eu sei lutar também”, esbravejou Lula em fevereiro passado, ameaçando a “elite” que “não se conforma com a ascensão social dos mais pobres”.
Edinho, Lula et caterva querem fazer o País acreditar que o PT só está sendo repudiado pela grande maioria dos brasileiros, como mostram as pesquisas de opinião mais recentes, porque os ânimos foram exacerbados por extremistas da “direita”. Como exemplo, Edinho citou os panfletos atirados por desconhecidos durante o velório do ex-senador José Eduardo Dutra (PT), nos quais se lia a frase “petista bom é petista morto”. A lamentável iniciativa de meia dúzia de cretinos transformou-se rapidamente em oportunidade para que os petistas denunciassem a “intolerância” contra o PT.
De fato, o País está cansado de um partido cujas lideranças, praticamente desde a fundação, só conhecem a linguagem do confronto. Não custa lembrar que esse mesmo partido que hoje acusa a oposição de “golpe” por defender o impeachment de Dilma – solução prevista na Constituição – é aquele que, logo no início do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1999, deflagrou uma campanha para destituí-lo. O País também está cansado de um partido que jamais reconheceu os inúmeros erros cometidos ao longo dessa trajetória, entre os quais se destaca o boicote ao Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal, e que, além disso, acredita estar em missão messiânica para resgatar os pobres, transformando em inimigos todos aqueles que se opõem a seus métodos.
O Brasil de fato cindiu-se, como mostrou o resultado da última eleição presidencial, mas isso ocorreu em razão da polarização criada pelos próprios petistas. Graças a essa atitude, a classe média – “gente branca de olhos azuis”, como a ela já se referiu Lula, para diferenciá-la dos pobres – tornou-se uma espécie de judas a ser malhado, dia e noite. Em 2013, num evento para celebrar os 10 anos do governo petista, a filósofa Marilena Chauí, ao lado de Lula, resumiu, aos gritos: “Eu odeio a classe média!”. Lula gargalhou e a plateia de petistas urrou.
Foi dessa maneira que se construiu o ambiente de polarização que hoje deixa tão indignado o ministro Edinho Silva. Ele mesmo, aliás, quando ainda era apenas uma liderança do PT, em março passado, escreveu um manifesto no qual acusava a “elite brasileira, insuflada por uma retomada das mobilizações da direita no continente”, de lutar para “manter um Estado nacional arcaico” e de armar “trincheiras contra as reformas estruturais”. Edinho queixou-se de que o PT estava paralisado diante do “discurso oportunista de uma direita golpista”. O signatário de tão virulentas linhas é o mesmo que, agora, se queixa da “intolerância” contra o PT e prega a “paz política”. Mas, como se sabe, a única paz que o PT deseja é a proverbial paz dos cemitérios.
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