• Líderes de partidos que não se sentiram contemplados com a reforma ministerial se rebelaram para esvaziar sessão
• 'Blefe' dos aliados preocupa Planalto; na véspera, líderes garantiram ao governo que votação ocorreria
Mariana Haubert, Ranier Bragon, Débora Álvares, Gustavo Uribe e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Mesmo após ter realizado uma reforma ministerial e ter mobilizado vários ministros para garantir a fidelidade de aliados no Congresso, o governo sofreu nova derrota nesta quarta (7) ao não conseguir votar a manutenção dos vetos presidenciais a propostas da chamada pauta-bomba.
Em pleno dia de maior movimento no Congresso, a sessão conjunta da Câmara e do Senado foi encerrada por falta de quórum –223 dos 513 deputados e 68 dos 81 senadores. Eram necessários, pelo menos, 257 deputados para haver deliberação.
Minutos após o encerramento da sessão no Congresso, a Câmara iniciou a sua própria sessão para discutir outros temas e a Mesa Diretora informou que havia 428 deputados na Casa, o que confirma o boicote ao governo.
A votação do Congresso era considerada pelo Palácio do Planalto como a primeira prova de fidelidade da base após a última reforma ministerial, que cedeu sete ministérios ao maior partido da base aliada, o PMDB.
No entanto, líderes de siglas aliadas que não se sentiram contemplados com a reforma ministerial se mobilizaram para esvaziar a sessão: Rogério Rosso (PSD-DF), Maurício Quintela Lessa (PR-AL), Eduardo da Fonte (PP-PE) e Jovair Arantes (PTB-GO) não registraram presença e desmobilizaram suas bancadas.
Nem o partido mais contemplado, o PMDB, mostrou fidelidade consistente a Dilma –dos 65 deputados, só 37 compareceram. Isso apesar de a presidente ter escolhido o líder da bancada na Câmara PMDB, Leonardo Picciani (RJ), como interlocutor nas negociações da reforma ministerial.
Picciani comandou a escolha de dois deputados do partido para os ministérios da Saúde e Ciência e Tecnologia.
Depois da derrota, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) se reuniu com os líderes rebelados do PP, PR, PSD, PTB e Pros para ouvi-los sobre como resolver os problemas no Congresso.
A avaliação do Planalto é que a sinalização da derrota desta quarta foi muito ruim, porque o governo acreditava que, com a reforma ministerial, havia criado condições para garantir maioria no Legislativo, o que não ocorreu.
O Planalto ficou mais preocupado ainda porque estes líderes, no dia anterior, haviam dito que haveria quórum e que os vetos seriam mantidos. Na nova reunião realizada na tarde desta quarta, eles voltaram a dizer que, na próxima semana, vão participar da sessão do Congresso e votar com o governo.
Na área econômica, a avaliação é que os vetos serão mantidos, mais cedo ou mais tarde. O problema, dizem, é que uma derrota como a desta quarta gera uma sensação de instabilidade que só agrava o sentimento no mercado de que a crise política está longe de ser resolvida.
Os demais partidos rebelados reclamam que Dilma privilegiou Picciani na reforma e não contemplou as demais legendas. "Os caras estão cobrando a fatura. Cargos e emendas. Tudo. Isso é uma canalhice. Eles não podem utilizar esse tipo de comportamento que não tem outro nome a não ser chantagem", afirmou um dos vice-líderes do governo na Câmara, Silvio Costa (PSC-PE).
PT e PMDB
Se os faltosos do PT e PMDB estivessem presentes, o quórum mínimo para votação, de 257 deputados, seria atingido. Mesmo com a defecção do seu partido, Picciani afirmou que não aceitava que se culpasse o PMDB pela queda da sessão.
Diante das seguidas derrotas, líderes da base veem o resultado como evidência de que o governo não conseguiu reconstruir o espaço de diálogo com a Câmara e perdeu o comando de sua base.
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