quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Jarbas de Holanda - PMDB. Abandono do projeto presidencial?

O primeiro dos ingredientes do retorno, provisoriamente bem sucedido, do ex-presidente Lula ao protagonismo político foi o uso do fisiologismo do baixo clero da bancada peemedebista da Câmara dos Deputados (estendido ao de outros partidos). Com a confiabilidade de cumprimento dos acertos negociados apoiando-se na garantia de assunção por ele do controle das decisões principais do governo – por meio de gente de sua confiança, com destaque para Jacques Wagner, na Casa Civil, em lugar do dilmista Aloizio Mercadante. Assunção que podia assegurar após a rendição, enfim, da afilhada Dilma ao seu comando político, como alternativa a iminente processo de impeachment.

 Segue-se o segundo ingrediente da recuperação desse protagonismo: a exploração, bem feita por ele, do grande receio (em alguns casos, pânico) de diversos parlamentares, sobretudo senadores, quanto aos desdobramentos da operação Lava-Jato. Receio que propiciou a receptividade às propostas de Lula para esvaziamento do papel do juiz Sérgio Moro à frente da operação. E deve ter induzido vários parlamentares a pressionarem o vice Michel Temer a uma recomposição com o governo. Tais propostas, que incluíram a do controle das investigações da Polícia Federal por um governo respaldado pelo Legislativo, decerto voltaram-se centralmente para uma “articulação institucional” do Executivo, do Congresso e da cúpula do Judiciário contra “os desmandos” da referida operação. E a elas Lula podia juntar ações com esses objetivos, já postas em prática sob a direção do advogado e ex-ministro Nelson Jobim, estreitamente vinculado a ele. Obviamente, ficou à margem dessa interlocução o amplo apoio popular aos trabalhos da Lava-Jato e à condução deles pelo juiz Sérgio Moro. Bem como foi subestimada, ou não prevista, a forte indignação social e do conjunto da mídia que se contraporá a tentativas de bloqueio às investigações e para desmonte das sentenças da Lava-Jato em tribunais superiores, como a indicada em reações que já se manifestam contra o “fatiamento” de parte dos processos (Indignação que tem afinidade com a repulsa da opinião pública ao vale-tudo do governo para bloquear o julgamento das “pedaladas fiscais” pelo TCU).

Com o envolvimento, significativo, no “arremedo de reforma” (qualificativo do ex-presidente FHC), os caciques do PMDB abandonam, ou retardam, o projeto de candidatura presidencial, baseado na disputa do antipetismo com o PSDB. O cálculo do núcleo dirigente do partido e do próprio Michel Temer é certamente o de que esse envolvimento poderá ser desfeito mais à frente, seja no cenário de continuidade do governo Dilma até 2018, seja no de interrupção do mandato dela. Justificativas da ambiguidade: como maior partido do país, o PMDB estava compelido a buscar respostas às agudas crises política, econômica e social. Com a explicação complementar, nos bastidores, de que o papel desempenhado para garantir a continuidade, ou uma sobrevida, do mandato de Dilma Rousseff se deveu, sobretudo, à recusa da Executiva do PSDB de assumir, também, num governo Temer (que já estava sendo preparado) o custo das medidas impopulares de um duro ajuste fiscal indispensável. Mas a credibilidade desse cálculo dificilmente resistirá ao enorme desgaste de uma parceria predominantemente fisiológica com o lulopetismo. Num contexto – de agravamento e de longa persistência da crise econômica – que não abre nem abrirá espaço para essas respostas, especialmente se buscadas por tal parceria.

Atribuição a Levy das “maldades” do ajuste
Até quando Joaquim Levy continuará no Ministério da Fazenda? A dúvida, surgida com a assunção por Lula do comando do governo, passa a ser explicitamente tratada nos meios políticos e econômicos. O Painel da Folha, de hoje, é aberto com a nota “Prazo de validade”, segundo a qual “Ministros e petistas preveem a saída... (dele) na virada do ano”. Saída que dependerá, primeiro, da dificuldade da escolha de um substituto que possa ser vendido como confiável ao mercado. Mas que já tem receita pronta para ser usada pelo lulopetismo: a de afastamento do “responsável” pelas medidas antissociais do ajuste fiscal, e obstáculo a uma “flexibilização” dele vinculada ao projeto do “volta Lula”.

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Jarbas de Holanda é jornalist

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