Por Andrea Jubé, Raphael Di Cunto e Bruno Peres – Valor Econômico
BRASÍLIA -O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva advertiu a bancada do PT na Câmara, em reunião ontem, que a batalha contra o impeachment não está ganha e é preciso ir para o confronto com a oposição. Sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Lula afirmou que ele é um problema do Judiciário e do Ministério Público, e não do PT.
Após a reunião com a bancada, Lula seguiu para um encontro com a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, no Palácio da Alvorada.
"O Eduardo Cunha é problema do Judiciário e do Ministério Público", disse Lula aos petistas, segundo relato ao Valor de um dos presentes. "O adversário do PT é a oposição", completou o ex-presidente, recomendando à bancada que reúna a tropa para enfrentar a oposição e deixe o pemedebista de lado.
Foram ao encontro de Lula em um hotel em Brasília o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), e mais 12 deputados, entre vice-líderes e representantes do baixo clero petista. "É bateu, levou, como se diz no Norte, não é pra levarmos gato ensacado pra casa, não se brinca com a democracia", disse aos jornalistas o líder do PT, Sibá Machado, na saída da reunião com Lula.
Segundo relatos de participantes da reunião, Lula ressalvou que as liminares do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspenderam a tramitação do impeachment deram fôlego para o governo no Congresso, mas defendeu que é preciso organizar a base porque ainda falta muito a fazer.
"O foco do discurso foi de que estamos sob ataque ainda, precisamos sair do ajuste {fiscal} e retomar a ofensiva política", relatou ao Valor o deputado Afonso Florence (BA). "As liminares foram uma vitória importante, mas por si só não resolvem o problema. Não impedem um novo pedido [de impeachment]", acrescentou o vice-líder da legenda, deputado Ságuas Moraes (MT).
No início da noite, Lula divulgou uma nota oficial para rechaçar relatos de que teria endossado um "acordo" com Eduardo Cunha para que ele não despachasse o impeachment.
Sibá repetiu a fala do ex-presidente Lula de que as "pedaladas" serviram para pagar programas sociais, como o Bolsa Família e o ProUni. Ele ressaltou que no final do ano, o governo fazia encontro de contas e devolvia à Caixa Econômica Federal os recursos antecipados aos programas sociais.
No entanto, Lula enfrenta algumas divergências dentro do PT. Tendências de esquerda do partido divulgaram nota cobrando maior combatividade da sigla em relação a Cunha. "Defendemos que o PT assuma imediatamente a posição de representar junto ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados o deputado federal Eduardo Cunha, solicitando abertura de investigação e processo em razão das graves denúncias de atividades ilícitas e quebra de decoro que são puníveis com a cassação do mandato parlamentar", diz a nota.
Enquanto isso, Cunha buscou saber de interlocutores do PT quem da bancada do partido na Câmara apoia a representação do PSOL. Quis saber especificamente se os ex-presidentes da Câmara Arlindo Chinaglia e Marco Maia, bem como os deputados Paulo Pimenta e Paulo Teixeira, integravam a lista. Eles não assinaram o requerimento contra Cunha. O pemedebista também foi informado que o presidente do PT, Rui Falcão, não pretende apresentar representação contra ele no Conselho de Ética.
Segundo o Valor apurou, a representação do PSOL e do Rede pela cassação de Cunha não foi debatida extensivamente na reunião. Já está assinado pela maioria dos deputados do partido e "não há muito mais o que fazer", mas Lula aconselhou os petistas a não caírem no jogo da oposição e entrarem em confronto com o presidente da Câmara. O importante, frisou o petista, é garantir a governabilidade e o partido se manifestar apenas no Conselho de Ética.
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