• Alas pressionam por endosso ao pedido de cassação do presidente da Câmara; Planalto teme que reação dele seja abrir o impeachment
Vera Rosa, Adriano Ceolin - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem a deputados do PT uma trégua ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para barrar de uma vez por todas a abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Diante de petistas incomodados com essa estratégia, Lula disse que ninguém ganhará com a queda de Cunha.
Para o ex-presidente, não adianta derrubar o peemedebista se o Palácio do Planalto não reorganizar sua base aliada no Congresso, a bancada não defender Dilma e não houver mudanças na política econômica. O argumento foi o de que, se o cenário atual não mudar e o governo não recuperar a popularidade, Dilma pode acabar sendo afastada mais adiante.
Dos 12 deputados com quem Lula se reuniu, antes de se encontrar com Dilma, seis assinaram a representação na Comissão de Ética da Câmara pedindo a cassação de Cunha por quebra de decoro. Lula ficou muito irritado com o vazamento da notícia de suas articulações de bastidor para salvar o mandato de Cunha, acusado pelo Ministério Público da Suíça de manter contas secretas com dinheiro desviado da Petrobrás.
A estratégia articulada pelo ex-presidente, com o apoio do Planalto, provocou uma guerra entre correntes do PT. Muitos petistas argumentaram não ter como proteger Cunha, diante dos escândalos de corrupção. Para eles, a situação de Cunha é "insustentável".
Lula argumentou, segundo relato dos participantes, que ninguém vai se sobressair se Cunha for defenestrado. Disse, ainda, que a bancada do PT está acuada e precisa partir para o enfrentamento contra a oposição, para proteger Dilma.
"Ele cobrou uma posição firme de todos nós. É bateu, levou", disse o líder da bancada do PT na Câmara, Sibá Machado (AC). "Quem está no Conselho de Ética sabe da responsabilidade que tem. Não posso estar privando ninguém do seu direito parlamentar." Dos 54 deputados que assinaram a representação pedindo a cassação de Cunha no Conselho de Ética, 34 eram do PT.
Apesar de negar, o presidente da Câmara chegou a sugerir a emissários do governo que substituíssem o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A situação de Cunha piorou ontem, depois que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a abertura de um novo inquérito para investigar contas do deputado.
"Muitas pessoas têm ficado desgostosas com a minha postura de garantir a autonomia das investigações da Polícia Federal e de só atuar em caso de evidências de abusos e ilegalidades", disse Cardozo ao Estado. "Se é verdade que o presidente da Câmara quer a minha saída, deve ter as suas razões. Cabe a ele explicitá-las."
Após a má repercussão de que o PT faria um acordo com Cunha, o presidente do partido, Rui Falcão, também rechaçou a ideia. "Tanto o governo quanto o PT já deixaram claro que não existe hipótese de complacência com o malfeito.
Cobrado, Lula negou a articulação para proteger Cunha no Conselho de Ética. "Lula não manteve encontros ou reuniões neste sentido com parlamentares do PT nem com políticos de outros partidos. São escandalosamente mentirosas, portanto, as notícias publicadas a esse respeito."
Wadih Damous (RJ), um dos deputados do PT que assinaram a representação contra Cunha, negou ter sido pressionado por Lula para retirar seu nome da lista. "Ele jamais faria isso. A única coisa que falamos sobre Cunha é que não tem cabimento se envolver. Esse assunto é do Judiciário", disse. Para Damous, o governo não deve tomar posição a respeito. "E se o PT fizer algo haverá uma ligação direta, porque o governo se confunde com o PT", concluiu.
Divisão no PT. Enquanto Lula tentava acalmar os deputados, oito correntes internas petistas que representam mais de um terço do partido, entre elas a Mensagem ao Partido dos ministros Cardozo e Miguel Rossetto, enviavam à executiva nacional um pedido para que o partido peça formalmente ao Conselho de Ética da Câmara abertura de processo para investigar Cunha. "Com esta decisão a comissão executiva nacional orientará o conjunto da bancada a posicionar-se imediatamente na mesma direção", diz a nota do partido./ Colaborou Ricardo Galhardo
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