Fernando Baiano diz ter pago a nora de Lula e a Eduardo Cunha
Mario Cesar Carvalho, Bela Megale, Graciliano Rocha e Felipe Bachtold – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Delator da Lava Jato e atualmente preso, o lobista Fernando Soares disse ter feito um pagamento de R$ 2 milhões a um amigo do ex-presidente Lula, montante que seria destinado a uma nora do petista. Veiculada pelo "Jornal Nacional", a informação foi confirmada pela Folha.
O lobista, conhecido como Baiano, afirmou também que fez pagamentos em dinheiro vivo de ao menos R$ 1 milhão ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Baiano disse que o pagamento que beneficiaria a nora de Lula foi feito ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do petista, e se referia a uma negociação envolvendo a OSX, empresa de construção naval de Eike Batista, hoje em recuperação judicial.
O delator contou que trabalhava para que a OSX participasse de contratos da Sete Brasil, firma formada por sócios privados e pela Petrobras e que administra o aluguel de sondas para o pré-sal.
Segundo a reportagem, Baiano disse que pediu ajuda a Bumlai e que, adiante, o próprio Lula "participou de reuniões com o presidente da Sete Brasil para que a OSX fosse chamada para o negócio".
A negociação não avançou, mas mesmo assim Bumlai cobrou comissão de R$ 3 milhões, disse Baiano. O dinheiro seria para uma nora de Lula, cujo nome não foi mencionado, pagar uma parcela de um imóvel. Baiano contou que repassou então R$ 2 milhões a Bumlai. Ele não soube dizer se o valor foi entregue a algum parente de Lula.
O Instituto Lula afirmou que o petista nunca autorizou Bumlai a pedir dinheiro em nome dele e negou que alguma nora tenha recebido favor de Baiano
Bumlai se aproximou de Lula na campanha de 2002. Foram apresentados pelo então governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT. Ganhou intimidade para viajar na cabine do avião presidencial.
Segundo a Folha apurou, Bumlai tornou-se um dos alvos preferenciais da Lava Jato. Um segundo delator, Luiz Carlos Martins, ex-diretor da empreiteira Camargo Corrêa, também relatou episódios o envolvendo com propinas.
Martins contou que as empreiteiras que fizeram a usina de Belo Monte pagaram 1% de propina a políticos e lobistas. O suborno chegou a R$ 145 milhões. O plano era que o PMDB o PT dividissem o valor.
Havia um problema, porém. As grandes empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo, que tinham conhecimento para fazer a obra complexa, haviam sido deixadas de lado pelo governo.
Como as menores não conseguiriam tocar o projeto, era necessário fazer uma composição com as grandes. Bumlai e um outro lobista foram chamados para aparar as arestas.
Com a entrada da dupla no projeto, mudou a divisão do suborno. PT e PMDB ficaram com 0,45% cada (R$ 65,2 milhões); Bumlai e o outro lobista dividiram o 0,1% restante (R$ 14,5 milhões para cada).
Eduardo Cunha
Baiano também disse no depoimento ter levado entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão a um escritório de Cunha em 2011. Disse que deixou a quantia um certo Altair.
O pagamento, segundo o "Jornal Nacional", era parte de uma propina de US$ 5 milhões prometida a Cunha pelo lobista Julio Camargo. Era referente à contratação de navios-sonda pela Petrobras.
Baiano disse que tinha um celular para falar sobre ilícitos com Cunha e que o deputado chegou a enviar um e-mail citando o pagamento. Cunha refuta.
Outro lado
O Instituto Lula divulgou nota afirmando que o petista nunca autorizou o pecuarista José Carlos Bumlai a pedir dinheiro em nome dele.
Também negou que alguma nora do ex-presidente tenha recebido, direta ou indiretamente, qualquer pagamento ou favor de Fernando Baiano, delator da Lava Jato.
O instituto afirmou ainda que Lula "nunca atuou como intermediário de empresas em contratos, antes, durante ou depois de seu governo" e criticou a divulgação do depoimento de Baiano.
Por meio de sua assessoria de imprensa, Bumlai negou ter relação com o que chamou de "mentiras".
João Carlos Ferraz, ex-presidente da Sete Brasil, não quis se manifestar.
Por meio de sua assessoria, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), refutou "com veemência" as declarações de Baiano e criticou o que chamou de "vazamentos seletivos" de depoimentos de delatores.
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