• Senador afirma ter conversado com banqueiro sobre Cerveró, o que dono do BTG tinha negado
- O Globo
BRASÍLIA - Nos depoimentos à PF, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) e o banqueiro André Esteves caíram em contradição. Enquanto Esteves negou ter tratado da delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró com Delcídio, o senador confirmou ter conversado com o banqueiro sobre o acordo. -BRASÍLIA- O senador Delcídio Amaral (PT-MS) e o banqueiro André Esteves entraram em contradição nos depoimentos que prestaram à Polícia Federal após terem sido presos por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Esteves depôs ainda na quarta-feira e negou ter conversado com o senador sobre a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Delcídio foi interrogado anteontem e afirmou ter falado com o banqueiro sobre o assunto. O senador disse ainda que ofereceu ajuda à família de Cerveró e desejava sua liberdade por “questões humanitárias”.
A íntegra do depoimento de Delcídio foi divulgada pelo blog do colunista do GLOBO Jorge Bastos Moreno. O senador afirma ser verdadeira a conversa com o banqueiro sobre o tema, narrada ao filho de Cerveró, Bernardo, e ao advogado Edson Ribeiro na reunião que foi gravada no dia 4 de novembro. O termo de depoimento diz: “Perguntado se a conversa narrada no diálogo, supostamente havida com André Esteves, realmente ocorreu, afirma que sim, e que não responderá a qualquer outra que lhe for feita, reservando-se, a partir de então, no direito ao silêncio”.
Consulta de Dilma sobre Cerveró
O banqueiro, por sua vez, reconheceu ter tido ao menos cinco encontros com Delcídio nos últimos doze meses, mas negou ter tratado do tema. Esteves afirmou que só sabia das negociações sobre a delação pela imprensa e não tinha conhecimento de que Cerveró poderia citar o banco que presidia, o BTG Pactual, ou o seu nome. “Que nunca tratou com o senador Delcídio Amaral ou com quem quer que seja sobre a colaboração premiada de Nestor Cerveró”, afirmou Esteves, segundo o termo de depoimento obtido pelo GLOBO.
Delcídio, que já foi diretor da Petrobras durante o governo Fernando Henrique, disse que conheceu Cerveró nessa época. Afirmou que chegou a ser consultado pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, sobre indicação de Cerveró para a diretoria da estatal. O senador disse que concordou com a nomeação por conhecer o trabalho de Cerveró. Ele contou que Dilma conhecia Cerveró de quando foi secretária de Minas e Energia no Rio Grande do Sul.
O senador disse à PF que havia uma “relação próxima” entre o vice-presidente Michel Temer e o ex-diretor Jorge Zelada, que sucedeu Cerveró na Petrobras. Recusou-se, porém, a detalhar qual seria a proximidade. No depoimento consta: “Que o declarante referiu preocupação de “Michel” com “Zelada”, esclarece que se referiu ao vicepresidente da República, Michel Temer, que, “segundo informações que se tinha na época, mantinha relação próxima com Jorge Zelada”; que, perguntado em que consiste essa proximidade, o declarante assevera que prefere não responder a tal indagação”.
Em nota, Temer negou ter relações próximas com Zelada e repudiou “veementemente as declarações do senador Delcídio”. O texto explica que Zelada foi apresentado a Temer em 2007, após ser indicado para o cargo na estatal. No entanto, a nota afirma que o "presidente do PMDB não o indicou nem trabalhou pela sua manutenção no cargo".
“Questões humanitárias”
Delcídio negou ter procurado ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a libertação de Cerveró. Afirmou que foi procurado por Bernardo para ajudar a libertar seu pai e que só prometeu ajudar para dar “palavras de conforto”. Questionado se tinha interesse na soltura do ex-diretor da Petrobras, Delcídio respondeu que sim, mas por motivos pessoais, por já ter trabalhado com ele na Petrobras e por presumir seu sofrimento pessoal. Em resumo, por "questões humanitárias".
O petista também negou envolvimento na compra da refinaria de Pasadena. Existe a suspeita de que ele tenha recebido propina pelo negócio. O senador afirmou que foi procurado pelo advogado Edson Ribeiro, que aparece na gravação, porque ele tinha créditos a receber da Petrobras e lhe pediu ajuda. Era a estatal que pagava a defesa de ex-diretores investigados na Lava-Jato. Delcídio ainda prestará outro depoimento.
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