• Empreiteiro vai delatar pelo menos dois senadores por propinas
Por Iuri Pitta, Ricardo Brandt, Fausto Macedo, Julia Affonso e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo
O presidente do Grupo Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, vai apontar desvios que envolvem a empresa em contratos da Petrobrás e o pagamento de propina a pelo menos dois senadores, além de irregularidades em obras do setor elétrico e da Copa do Mundo realizada no ano passado, no Brasil. A empreiteira – a segunda maior do País, atrás da Odebrecht – e a Procuradoria-Geral da República negociam um acordo de delação premiada do executivo e um de leniência da empresa, além de pagamento parcelado de multa de R$ 1 bilhão, a maior a ser aplicada a uma empreiteira investigada pela Operação Lava Jato até agora.
Azevedo está preso desde 19 de junho, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Erga Omnes, 14.ª fase da Lava Jato, cujo nome é uma expressão em latim que significa “vale para todos”. Naquele dia, a força-tarefa deteve a cúpula das duas maiores empreiteiras do País. A Andrade Gutierrez também foi alvo no mês seguinte da 16.ª etapa da Lava Jato, nomeada Radioatividade, que teve como foco contratos da estatal Eletronuclear relacionados à usina de Angra 3, no Estado do Rio.
As negociações de Azevedo e da Andrade Gutierrez com a força-tarefa do Ministério Público Federal se prolongam há cerca de dois meses. O executivo vai citar os nomes de “autoridades com foro privilegiado” que teriam recebido valores ilícitos porque, de alguma forma, abriram caminho para a empreiteira fechar contratos com a Petrobrás. Entre essas autoridades estão pelo menos dois senadores, cujos nomes são mantidos sob sigilo. Um dos principais projetos da Andrade Gutierrez na estatal é o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj).
Além disso, o presidente da Andrade Gutierrez vai falar de esquemas de corrupção e irregularidades em contratos de outras obras públicas. Entre elas está a construção da Usina de Belo Monte, no Pará, cujo orçamento supera os R$ 30 bilhões. A empreiteira também atuou em obras de reforma ou construção de quatro estádios da Copa de 2014: Maracanã, no Rio; Mané Garrincha, em Brasília; Beira-Rio, em Porto Alegre; e Arena Amazônia, em Manaus.
O valor da indenização a ser paga pela Andrade Gutierrez – R$ 1 bilhão – supera o estipulado há três meses a outra empreiteira investigada pela Lava Jato. Ao assinar acordo de leniência, a Camargo Corrêa concordou em pagar R$ 700 milhões de multa pelo envolvimento no esquema de cartel e pagamento de propinas na Petrobrás. A empreiteira, que teve executivos presos pela Lava Jato em novembro do ano passado, também firmou acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), após prestar informações sobre o cartel que atuou em Angra 3, pelo qual pagou outros R$ 100 milhões.
Transferência. Nesta sexta-feira, 27, Azevedo e outros dois executivos da Andrade Gutierrez – Elton Negrão e Flavio David Barra – foram transferidos do Complexo Médico Penal em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, para a carceragem da PF na capital paranaense, base de atuação da Lava Jato.
Azevedo e Barra, que dirige a unidade de negócios de energia da Andrade Gutierrez, são réus em processo relacionado ao esquema da Eletronuclear, recentemente transferido da 13.ª Vara Federal em Curitiba para o Rio de Janeiro.
Além disso, a empreiteira foi citada em delações de outros colaboradores da Lava Jato, como o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa e o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano. Há duas semanas, Azevedo ficou em silêncio durante interrogatório na Justiça Federal no Paraná, em processo relacionado a contratos da Petrobrás, no qual responde a ação criminal por corrupção e lavagem de dinheiro. Na ocasião, limitou-se a agradecer à família diante do juiz Sérgio Moro.
A reportagem tentou falar ontem com o criminalista Celso Vilardi, que representa o executivo e participa das negociações de colaboração da empreiteira. Ele disse que não poderia se manifestar sobre o assunto.
A Andrade Gutierrez informou por meio da assessoria de imprensa que não vai comentar os acordos negociados pela empresa e por seus executivos com o Ministério Público.
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