Dado seu impacto e ineditismo, a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) ofuscou, ao menos por uns dias, outras fontes de turbulência no cenário político.
Não se pode desprezar, contudo, uma sequência de acontecimentos que é capaz de impor novas dificuldades à sobrevivência do esquema de corrupção e desgoverno criado em torno do PT.
Um dia antes de estourar o caso Delcídio, era preso um amigo do ex-presidente Lula –o pecuarista José Carlos Bumlai, por envolvimento na contratação suspeita de um navio-sonda para a Petrobras. Ele alega ter recebido do lobista Fernando Baiano um "empréstimo" de R$ 12 milhões.
O lobista, que conta com o benefício da delação premiada nas investigações da Operação Lava Jato, dá outra versão: o dinheiro teria sido retribuição pela ajuda de Bumlai nos negócios da Petrobras.
A dimensão política do episódio assume maior interesse porque cerca de R$ 2 milhões, segundo Fernando Baiano, teriam sido repassados pelo pecuarista a ninguém menos que uma nora de Lula.
Enquanto se vai projetando sobre a família do ex-presidente um conjunto de graves suspeitas, não diminuem os riscos de que sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), conheça novos problemas.
É que, depois de longas tratativas, formaliza-se o acordo de delação premiada entre os procuradores da Lava Jato e o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, peça-chave na malfadada aquisição da refinaria de Pasadena. Em que medida, e a partir de quais evidências, será possível dizer que Dilma conhecia as irregularidades do negócio?
Outra delação premiada –a do próprio Delcídio do Amaral– não está descartada das inquietações que rondam o Planalto.
Desse modo, a Lava Jato parece não ter fim; e não se extingue, por isso mesmo, a crise política que corrói o PT e o governo Dilma.
A próxima semana há de trazer mais turbulências. A começar pela continuidade do processo de cassação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), temporariamente eclipsada pela agitação no Senado.
Há muito de positivo, sem dúvida, no clima de seriedade e autonomia institucional que emana das investigações e das prontas respostas da Justiça.
Há muito de negativo, contudo, no fato de o governo se mostrar a reboque dos acontecimentos. Paralisa-se a discussão sobre economia no Legislativo. Medidas inadiáveis de controle do deficit público são praticamente abandonadas, e nem sequer uma previsão orçamentária se sustenta.
A hipótese de uma desorganização cabal da economia não pode ser esconjurada enquanto a crise política se prolonga a perder de vista.
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