• Enquanto Dilma faz todos os esforços para se manter longe das investigações e é supostamente blindada por Cardozo, as investigações se aproximam de Lula
- Correio Braziliense
As pressões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que a presidente Dilma Rousseff substitua o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, vão recrudescer. No xadrez de sua estratégia para voltar à Presidência, está convencido de que o ministro é um cavalo que se movimenta apenas para proteger a rainha, embora o futuro político do PT esteja umbilicalmente ligado ao rei, ou seja, à sua candidatura em 2018.
Lula não engoliu a visita de agentes da Polícia Federal à casa de seu filho Luís Cláudio, no último dia 27, às 23h, para entregar uma intimação. Ele acabara de sair da sua festa de aniversário, no Instituto Lula, à qual compareceu a presidente Dilma Rousseff, que estava empenhada em livrar a cara de Cardozo em outro episódio que desagradou o ex-presidente: a operação de busca e apreensão realizada na empresa do filho.
O ex-presidente da República já andava cabreiro com a Operação Lava-Jato, a cargo do juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba; e descobriu que a juíza federal substituta Célia Regina Ody Bernardes, da 10ª Vara Federal de Brasília, especializada em crimes financeiros e lavagem de dinheiro, responsável pela Operação Zelotes, também tem a mão pesada.
Os altos índices de desaprovação da presidente Dilma Rousseff e a paralisia de seu governo, num contexto de recessão — a maior desde 1930, que deve se aprofundar em 2016 —, fazem com que a expectativa de poder em relação ao PT sobreviva apenas em função do prestígio de Lula. Ao mesmo tempo, porém, enquanto o petista for um candidato competitivo, Dilma terá melhores condições para manter sua coalizão de governo.
Do ponto de vista político, portanto, ambos estão no mesmo barco. O problema é que a Lava-Jato e a Zelotes alteram a situação. Enquanto Dilma faz todos os esforços para se manter longe das investigações e é supostamente blindada por Cardozo, as investigações se aproximam de Lula. Parece um cerco se fechando: aliados políticos, empresários amigos e dois filhos do ex-presidente da República já estão enrolados.
O cerco
A Operação Zelotes investiga pagamentos recebidos por Luís Claudio, filho do ex-presidente, e a suspeita de que seu ex-chefe de Gabinete, Gilberto Carvalho, posteriormente ministro da Secretaria-Geral da Presidência na gestão Dilma, tenha supostamente atuado para tráfico de influência e corrupção com empresas do setor automotivo.
A Lava-Jato investiga o caso do navio-sonda da Petrobras Vitoria 10.000, entregue para operação da Schahin sem licitação, supostamente por intermediação do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. Como contrapartida, o banco Schahin teria quitado a dívida de R$ 60 milhões da campanha de Lula de 2006. O empresário é acusado de ter solicitado R$ 2 milhões ao lobista Fernando “Baiano” Soares para uma nora de Lula, o que deixou o petista indignado. Bumlai nega a acusação.
Os pagamentos de empresas investigadas à LILS, de propriedade do ex-presidente, e ao Instituto Lula, entidade mantida pelo ex-presidente “para o desenvolvimento nacional e a redução de desigualdades” e dirigida por Paulo Okamotto, ex-presidente do Sebrae, também são investigados. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda identificou movimentações de cerca de R$ 300 milhões consideradas atípicas, em transações bancárias de Lula e dos ex-ministros Antônio Palocci (Fazenda), Erenice Guerra (Casa Civil) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento).
Um procedimento investigatório criminal (PIC) foi aberto no Distrito Federal sobre suposto tráfico de influência internacional de Lula em favor da Odebrecht. Em 15 de outubro, Lula prestou depoimento espontâneo ao MPF do Distrito Federal, dando a sua versão dos fatos. O Tribunal de Contas da União (TCU) questiona a regularidade do crédito de quase US$ 750 milhões concedido pelo BNDES à Odebrecht. A empreiteira, descrita pela Lava-Jato como à frente de suposto cartel na Petrobras, pagou cerca de R$ 4 milhões a Lula por 10 palestras
As investigações são mais traumáticas do que as delações premiadas, cujas denúncias são contestadas e ironizadas por Lula. É que as operações de busca e apreensão, condução coercitiva e prisões de pessoas próximas, que acabaram associadas ao seu nome, são corrosivas para sua imagem e vão criando um ambiente de suspeita na opinião pública, mesmo que não obtenham provas robustas de seu envolvimento. Além disso, são pessoas que não têm direito a foro privilegiado. O próprio ex-presidente, sem mandato, começa a passar pelo constrangimento de ter que comparecer ao Ministério Público para prestar esclarecimentos.
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