- Folha de S. Paulo
"O Brasil está em liquidação", "muito barato para investidores de fora". O ataque comprador desta terça-feira nos mercados financeiros daqui faz lembrar dessas frases de segunda-feira de Abílio Diniz, presidente do Conselho da BRF.
Diniz acredita que o real a R$ 4 estaria desvalorizado além da conta; melhor a R$ 3,50. Com dólar na estratosfera, quem tem dinheiro "lá fora" (brasileiro ou não) compra um Brasil mais barato, óbvio, de empresas a serviços para turistas.
Dados o desânimo, a taxa de juros e o estado avariado de várias empresas, fica ainda mais barato comprar Brasil (e estão comprando, mas aos poucos, pelas bordas. Sim, o nacionalismo dilmiano deu numa xepinha).
Ontem foi dia de xepa, de comprar banana e verdura baratas no fim da feira? Pode ser, um tanto, como já houve dias recentíssimos de "família põe tudo a venda", com brasileiros e "estrangeiros" dando o fora. Parece que o mercado daqui seguiu na onda de mercados emergentes primos e de outras volubilidades dos donos do dinheiro pelo mundo, animados desde segunda. Isso tudo é especulativo, proteste-se.
Mais importante talvez seja observar a descabelada volatilidade dos preços de ativos financeiros no Brasil, do dólar em particular, em especial desde finais de 2014. A balbúrdia global nos contamina, mas nos destacamos em termos de preços que se agitam como loucos.
O Ibovespa subiu 4,76%. O dólar caiu 2,36%, com a ajuda do Banco Central, decerto. A Petrobras meio arruinada virou brincadeira de cassino. Ainda assim: variar mais de 10% em um dia? Um banco enorme e estável como o Itaú subir 6,5%, sem haver grande notícia (lucrou bem? Bidu!)?
Se a política do BC é evitar solavancos excessivos no câmbio, parece não dar lá muito certo ou, então, sem a intervenção cambial estaríamos em um "segura, peão!" ainda maior, sinal de transtornos de fundo mais graves.
Talvez a desvalorização extra represada esteja batendo à porta e estejamos gastando dinheiro à toa com cabrestos para o dólar.
Há queixas sobre a volatilidade do câmbio, que dificultaria a retomada regular de exportações, pois não se sabe bem o preço do comércio exterior. Há temores talvez ainda maiores de que, se o BC não tentasse domar o dólar, a quantidade de empresas no brejo seria enorme, crise indomável, com impactos ainda maiores do que o das perdas do BC com swaps cambiais (equivalentes a um seguro contra a desvalorização do real).
Como se sabe, o pessoal do BC acha absurda a ideia de que existam perdas. Quando o dólar se desvaloriza, diz, as reservas internacionais inflam em reais, mais que compensando as perdas com swaps. Faz sentido, mas, se não houvesse swaps, o ganho seria ainda maior.
Nada disso é simples. Uma quebradeira de empresas, estatais inclusive, poderia levar além da Lua o risco de investir no Brasil e, pois, as taxas de juros, provocar estiagem de crédito para o país.
Ainda assim, por quanto tempo e em qual volume haverá esse seguro público para o setor privado, seguro que começou a ser oferecido em meados de 2013? Quais os efeitos colaterais? Precisamos falar sobre swap cambial e dólar.
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