• Ex-governador do Rio diz que o programa econômico lançado pelo PMDB é uma nova Carta aos Brasileiros e defende as medidas sugeridas
Paulo Celso Pereira- O Globo
Qual a importância desse programa?
Quando a estabilidade do Plano Real estava ameaçada, você teve a Carta aos Brasileiros (documento que Lula apresentou na campanha de 2002 e acalmou o mercado). Este documento tem o mesmo significado, só que é muito mais importante porque a situação econômica daquela época não chegava perto da gravidade da crise que vivemos hoje. Nós não temos rumo, estamos à deriva, sem saber o que fazer.
Mas há um componente político do programa.
A sociedade brasileira está muito dividida. Há alguns meses o governo introduziu o debate sobre o impeachment da presidente da República. Foi a presidente, na Rússia, que falou pela primeira vez em impeachment. O governo não pode transformar um tema que lhe é hostil no principal tema de ação política. E, evidentemente, ao lado dele, introduziu-se o impeachment do Eduardo Cunha. Então, o dilema em que querem nos aprisionar é saber quem é que tem que cair primeiro. Mas não é a satanização de um ou de outro que vai resolver o problema político, econômico e a desorganização da sociedade.
E qual o caminho para sair da crise?
Esse documento retoma uma série de teses que já fazem parte da agenda, algumas encaminhados pelo PT. Essa trajetória é que nos permitiu em dez anos levar 40 milhões de pessoas ao mercado de consumo. Só se consegue isso quando há estabilidade fiscal; não há hipótese de se conseguir isso na orgia. Os que criticam essas medidas estão querendo negar a aritmética.
O governo falhou na aritmética?
Acho que sim. Você pega um programa extremamente importante como o Fies e em um ano dá um salto de gastos como foi dado. Os cofres públicos não tinham condição de suportar essa mudança, por mais justa que fosse. Agora, os brasileiros, sobretudo os jovens, os negros e as mulheres, os mais beneficiados nesse processo, estão numa situação muito ruim. Há milhões perdendo emprego e renda e que ainda estão devendo.
Mas esse é um programa para o vice-presidente Michel Temer conduzir?
Ele é presidente do PMDB e trouxe esse programa para o partido debater. Ao longo desses 50 anos, o PMDB fez questão de, em momentos críticos, dar o testemunho de compromisso com o país. O impeachment para nós não é trivial. Nós nunca colocamos esse tema em debate. Nós não estamos dizendo com quem nós vamos percorrer. O governo pode achar esse programa maravilhoso e decidir implementar. Se ele não quiser, que apresente o caminho.
O senhor vê possibilidade de a presidente Dilma promover a pacificação que vocês defendem?
Depende do governo. Poder não é mandar, é ser obedecido. Mandar qualquer um pode. Agora, para ser obedecido, você precisa ter razoabilidade, precisa ter bom senso, liderança, precisa ouvir. Podemos chegar a 2018 com a presidente Dilma. Não estamos fazendo campanha do presidente Michel Temer, nem campanha da Dilma. O partido procura um caminho para o país.
O programa defende a desvinculação das aposentadorias do salário-mínimo. É viável um candidato do PMDB à Presidência defender isso?
Claro. Você tem que confiar no povo. A ideologia é um instrumento nocivo à vida das pessoas, e elas sabem disso. Tenho certeza que hoje a compreensão que o brasileiro tem da crise é totalmente diferente da que tinha há dois anos.
O PMDB, que apoiou as duas eleições da presidente, não tem uma parcela de responsabilidade?
Seria um excesso dizer que não. Mas o PMDB nunca foi chamado para participar das decisões de políticas públicas nem de política econômica. Por isso nós não nos sentimos responsáveis.
O partido não tem candidato próprio desde 1994. Em 2018 será diferente?
Não sei. Nós vamos trabalhar para que tenhamos. Candidato é facílimo de ter, já tivemos vários. Candidatura é dificílimo. Para ter uma candidatura você precisa ter uma máquina partidária organizada, disposta, uma mensagem que gere esperança, confiança. Nós queremos uma candidatura.
Como o partido justificaria em uma eleição nacional a presença de figuras como Eduardo Cunha e Renan Calheiros?
O PMDB nesses 50 anos só não aceitou uma única pessoa nos seus quadros: Jânio Quadros. Os demais participantes sempre encontraram as portas abertas. Preferimos acreditar nas instituições do que sermos apressados no julgamento das pessoas.
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