Lula e os petistas têm encontrado enorme dificuldade para reunir maioria de votos no Congresso Nacional para aprovar as medidas necessárias ao ajuste fiscal, mas saem-se muito bem na conquista de aliados para barrar investigações que não lhes interessam nas comissões regulares e nas CPIs que investigam casos de corrupção na gestão da coisa pública. Não é difícil de entender. Dos 81 senadores e 513 deputados federais que formam o Parlamento, cerca de 150, ou 25% do total, têm o rabo preso em pelo menos uma ação penal em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF) ou em fase de investigação. Só por conta da Operação Lava Jato são cerca de 20 os investigados, destacando-se entre eles os presidentes das duas Casas, o senador Renan Calheiros e o deputado Eduardo Cunha.
É, portanto, o espírito de corpo na sua concepção menos virtuosa que inspira e motiva o pacto que Lula e sua turma lograram estabelecer com aliados de Calheiros e de Cunha – como apurou o Estado – e resultou, desde logo, na derrubada, na CPI do Senado que investiga irregularidades no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), dos requerimentos de convocação para depoimento do filho caçula do ex-presidente e dos ex-ministros Gilberto Carvalho e Erenice Guerra. Na Câmara, o apoio dos aliados de Eduardo Cunha permitiu barrar a convocação, pela CPI do BNDES, do ex-ministro Antonio Palocci, para explicar melhor a consultoria que prestou a empresas que firmaram contratos com o banco de fomento.
Esse conluio destinado a blindar, de modo geral, os parlamentares que já são ou correm o risco de se tornar réus, e em particular evitar que se aperte o cerco em torno de Lula, é um primeiro resultado da estratégia inaugurada há menos de um mês pelo chefão do PT, quando abertamente orientou os petistas a aliviarem a pressão sobre Eduardo Cunha e outros políticos que estão na mira das investigações comandadas pelo procurador-geral da República.
Durante seus dois mandatos como presidente da República, Lula aliou-se ao que havia de pior na política brasileira para formar, em nome da “governabilidade”, a mais ampla base possível de apoio parlamentar. Como para ele os fins justificam quaisquer meios, negociou sem o menor escrúpulo o apoio dos “picaretas” que ele dizia serem 300 no Congresso. Agora, para salvar a própria pele e tentar evitar também que Cunha use seu poder para levar adiante processos de impeachment de Dilma Rousseff, Lula voltou a apelar para o mesmo expediente, poupando o presidente da Câmara de ter os petistas em seus calcanhares.
A crescente preocupação de Lula com seu próprio destino pode ser avaliada pela assiduidade com que tem frequentado Brasília para o cumprimento de uma agenda, frequentemente reservada, de contatos políticos. Pode ser medida também pela retomada, sempre diante de plateias selecionadas e seguras, de seu tradicional discurso, pontuado por bravatas, de salvador da pátria perseguido pelas elites.
Na quinta-feira passada, no encerramento de uma conferência nacional sobre segurança alimentar, no DF, Lula foi dramático: “Nem se eu tiver apenas um minuto de vida em 2018, se tiver concorrendo contra nós um projeto conservador que tenha como objetivo acabar com as coisas que fizemos neste país, podem estar certos de que eu estarei na campanha, ou como cabo eleitoral ou como candidato”. Não mencionou, é claro, que sua pupila Dilma já está se encarregando de “acabar com as coisas”.
Mais tarde, em entrevista ao telejornal SBT Brasil, tratando do sincericídio que cometera dias atrás ao admitir o estelionato eleitoral praticado pelo lulopetismo em 2014, Lula tentou ser mais cauteloso: “De repente, depois da campanha, percebeu-se que estava saindo mais dinheiro do que entrando”.
Foi patético. Questionado em seguida sobre a Operação Lava Jato, não resistiu a uma bravata: “Não temo ser preso porque duvido que alguém nesse país (possa dizer que) teve comigo uma conversa ilícita”. Está aí a revelação de mais uma afinidade entre Lula e seu parceiro Eduardo Cunha: jamais passou algo ilícito pela cabeça de qualquer um dos dois.
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