Tendo reunido 55 mil participantes em São Paulo, segundo medição do Datafolha, foram expressivas as manifestações contra o impeachment de Dilma Rousseff (PT) realizadas na quarta-feira (16) em diversas cidades brasileiras.
Os organizadores do evento podem comemorar o fato de terem superado os atos pelo afastamento da presidente registrados no domingo (13) –data em que, de acordo com o Datafolha, pouco mais de 40 mil pessoas foram à avenida Paulista.
O jogo comparativo, no entanto, não se esgota na estatística isolada desses dois acontecimentos. Em março deste ano, 210 mil protestaram contra o governo Dilma em São Paulo; em número menor, mas ainda assim impressionante, passeatas com o mesmo fim se repetiram em abril e agosto.
As entidades que promoveram os mais recentes atos pró-impeachment lembram que foram tomadas de surpresa pelo início do processo de afastamento na Câmara.
Poderão, ademais, sustentar que as manifestações a favor da presidente contam com o poder de arregimentação de entidades sindicais, cujos estreitos laços com o PT desqualificariam qualquer aparência de espontaneidade do evento.
Além disso, o repúdio à presença de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados contribuiu para aumentar o público do ato de quarta-feira, que não se limitou aos defensores incondicionais de Dilma Rousseff.
À esquerda, condenou-se também a política econômica do governo, enquanto que, de perspectiva menos ideologizada, rendeu frutos a estratégia governista de reduzir a crise a uma comparação entre as biografias de Cunha e Dilma.
Mobilizações à parte, persiste na sociedade a avaliação extremamente negativa do atual governo (67% de ruim e péssimo), associada à ampla convicção de que Eduardo Cunha deve ser afastado do cargo e a divisões mais acentuadas quanto ao impeachment propriamente dito, que ainda assim obtinha 65% de apoio da população, segundo o Datafolha, no final de novembro.
O exercício comparativo entre um lado e outro da opinião pública será, talvez, inesgotável; arregimentados ou espontâneos, os manifestantes contra e a favor do impeachment não deixam, de todo modo, de pertencer de pleno direito à sociedade brasileira.
E esta, ao contrário do que se viu à época de Fernando Collor, apresenta-se dividida com relação ao tema. Por enquanto não há a quase unanimidade que se produziu em 1992. São diminutas, mesmo entre os favoráveis ao impeachment, as esperanças com relação a um eventual governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB).
A crise política atual é de outra natureza –e mais longínquas as perspectivas de superá-la.
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