Contrário ao impeachment, o deputado Leonardo Picciani recuperou a liderança do PMDB na Câmara após deflagrar operação para levar aliados ao Legislativo. O presidente do Senado, Renan Calheiros, comemorou e ainda atuou para que a Casa peça ao TCU auditoria sobre supostas “pedaladas” do vice Michel Temer, com quem está em guerra.
• Deputado reconquista cargo graças às atuações do governador Pezão e do prefeito Eduardo Paes
• Com apoio do Planalto, governista do PMDB é reconduzido ao cargo após apresentar lista com apoio de 36 dos 69 integrantes da bancada
Picciani retoma liderança do PMDB na Câmara
• Deputado agora diz que indicará peemedebistas favoráveis ao afastamento de Dilma para compor comissão
Leticia Fernandes Evandro Éboli – O Globo
-BRASÍLIA- O deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), contrário ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e destituído da liderança do partido na semana passada, reassumiu o posto ontem depois de apresentar uma lista com 36 assinaturas a seu favor em uma bancada composta por 69 parlamentares. Os votos dos deputados Pedro Paulo e Marco Antônio Cabral, exonerados de suas funções na prefeitura do Rio para reassumirem as cadeiras na Câmara, foram definitivos para a vitória de Picciani.
O novo líder do PMDB na Câmara voltou a afirmar que sua posição é contrária ao impedimento de Dilma, mas que vai dialogar com a bancada do partido. O peemedebista é um dos mais próximos aliados do governo na legenda.
— O tema causa divisões, eu pessoalmente tenho uma posição definida, mas buscaremos (consenso) pelo diálogo e pela conversa, não há imposição.
À noite, Picciani disse, inclusive, que indicará deputados favoráveis ao impeachment para compor a comissão especial que analisará o processo. A rebelião ocorrida semana passada, que levou o deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG) à liderança do partido, foi motivada pela indicação só de deputados favoráveis à presidente.
— Não vou apresentar a mesma lista de nomes para essa nova comissão. Vou conversar com o grupo pró-impeachment para buscar unificar os procedimentos. Vamos fazer uma lista incluindo os que são favoráveis ao impeachment e também os indecisos. Tem que reproduzir a realidade da bancada — afirmou Picciani ao GLOBO.
O deputado Lúcio Vieira Lima, aliado do vice-presidente Michel Temer e um dos articuladores da destituição de Picciani, criticou a volta dele:
— É uma liderança artificial, porque precisou trazer gente de fora para conseguir voltar ao cargo. Mas, com o recesso, o papel do líder agora vai ser nenhum.
A checagem das assinaturas pró-Picciani pela secretaria-geral da Mesa, que era para ser apenas formalidade, virou polêmica, já que três deputados também tinham assinado a lista que colocara Quintão na liderança. Vitor Valim (CE), Jéssica Sales (AC) e Lindomar Garçon (RO) tiveram que ir à Câmara para referendar o apoio à restituição de Picciani.
Resolvidos os trâmites burocráticos, o novo líder respondeu aos que criticaram sua volta à liderança:
— Quando fui substituído, de imediato reconheci a posição da maioria. O mais adequado seria fazerem o mesmo, até porque tive assinaturas de pessoas que estavam no posicionamento anterior. Foi o outro lado que perdeu apoio.
Em seguida, Picciani foi ao plenário da Câmara anunciar sua volta ao posto:
— Retomo as minhas funções na Câmara dos Deputados com o compromisso de que a bancada do PMDB não mais adotará um expediente constrangedor de troca de líder.
Parlamentares do PMDB críticos a Picciani já articulam para que ele deixe a liderança ainda antes do recesso. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse a aliados que o retorno de Picciani à liderança pode durar apenas até terça-feira. Com a lista de apoiadores de Picciani, Cunha fez contas e disse que irá reverter a situação.
Às vésperas do início do recesso parlamentar, a guerra entre as duas alas do partido pode gerar diversas listas de apoio, num “entra e sai” de líderes. O recesso não impede que se troque o líder de um partido, informou a Secretaria-Geral da Mesa Diretora. Sílvio Avelino, o secretário-geral, explicou ao GLOBO que, na prática, pode se eleger “um líder a cada meia hora”. Antes da confusão, Picciani defendeu a união no partido e disse que não há sentimento interno de “revanchismo” ou “disputa”:
— Hoje a gente deu um passo importante para afundar esse processo que é o uso de listas. O momento agora é de união, de se buscar unidade no partido.
Pedido de armistício
O líder disse que a divisão na bancada é fruto da tensão que o país vive hoje. Ele defendeu, no entanto, que todos “recolham suas armas” para o bem do país. Picciani afirmou que continuará dialogando com a presidente Dilma:
— É fruto do momento tenso que o país vive, mas precisamos que todos recolham suas armas e trabalhem pelo país. Continuarei dialogando com a presidente Dilma, a maioria da bancada preza por esse diálogo.
Picciani minimizou a polêmica com Temer, a quem criticou quando foi retirado da liderança. Ontem, em tom brando, disse que foi envolvido em “falsa polêmica” e fez elogios ao vice:
— Fui envolvido numa falsa polêmica, tenho grande apreço por ele, é a maior liderança do nosso partido, e buscarei o diálogo com ele e com toda a bancada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário