Por Camilla Veras Mota e Robson Sales - Valor Econômico
SÃO PAULO e RIO - A queda da taxa de desemprego em novembro, de 7,9% no mês anterior para 7,5%, contrariou as expectativas do mercado, que previam estabilidade do indicador, mas não reverteu a avaliação de economistas de que a desaceleração expressiva pela qual passa o mercado de trabalho permanece em curso e deve se estender ao longo de 2016. Isso porque, descontado o impacto da sazonalidade, como as contratações temporárias típicas do último quadrimestre, o desemprego não cai em novembro.
O comportamento dos salários, que somaram a décima queda consecutiva, também dá dimensão do ajuste. Em novembro, a renda média real recuou 8,8%, a contração mais intensa do ano, e já acumula perda de 3,5% em 2015 - também a maior da série. A massa salarial teve recuo recorde de 12,2% sobre novembro de 2014, depois de cair 10,3% no mês anterior, reforçando as avaliações de que a demanda doméstica continuará dando contribuição negativa para a atividade em 2016.
Na série do banco Fator, descontados os efeitos sazonais, a taxa de desemprego passa de 8% em outubro para 8,1%. Para LCA Consultores e Rosenberg Associados, permanece estável em 7,9%. Mais do que a comparação de curto prazo, analistas chamam atenção para o aumento de 2,7 pontos percentuais da taxa em relação a novembro do ano passado e para a queda de 3,7% no volume de ocupados, também no confronto com o mesmo mês de 2014, a maior da série da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que começa em 2002.
No mês passado, o volume de pessoas empregadas nas seis principais regiões metropolitanas do país chegou a 22,5 milhões, nível semelhante ao de julho de 2011.
"Neste ano o efeito da sazonalidade só começou a aparecer em novembro, quando costuma contribuir desde agosto para a redução do desemprego", ressalta José Marcio Camargo, professor da PUC-Rio. O setor informal, ele destaca, foi aquele que gerou maior número de postos entre outubro e novembro, 60 mil, diante do saldo de 72 mil observado no período - o que representa uma alta de 0,3% na ocupação. Na abertura por faixa etária, o grupo daqueles entre 18 e 24 anos ocupou 37,8% dessas vagas. "Isso indica que boa parte desses empregos era temporário".
A pesquisadora da coordenação de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Adriana Beringuy também destacou a queda do desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos, de 19,5% em outubro para 18%.
Em paralelo à retração da ocupação, as perdas que os salários registram desde o início do ano só se aprofundam. "A variação do rendimento médio real mergulhou em campo negativo em fevereiro, com queda de 0,5%, o que não ocorria desde outubro de 2011", lembra Fabio Romão, da LCA Consultores.
A retração da renda foi a 5% em maio, passou a 7% em outubro e chegou a 8,8% no mês passado. Além do impacto da recessão, que dificulta a negociação de aumentos reais por parte dos trabalhadores, a inflação alta, já acima de dois dígitos, ajuda a explicar o cenário bastante negativo da renda neste ano. Com mais um recuo em dezembro, de 8,1%, conforme as projeções da LCA, a renda cairia expressivos 3,9% neste ano, ressalta o economista.
A expectativa de queda para a massa de rendimentos, diante do corte de vagas, é ainda pior, de 5,5%. Como esse indicador mede de certa forma a renda disponível no país para o consumo, a dinâmica negativa antecipa mais um ano ruim para o comércio e para o desempenho do mercado doméstico como um todo no ano que vem.
A procura mais fraca do que o esperado por trabalho contribuiu para a queda do desemprego em novembro. Na comparação com outubro, a população economicamente ativa (PEA) não variou - chegando a cair 0,9% no confronto com outubro do ano passado. Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara, esse movimento está ligado aos cortes expressivos de vagas observados nos últimos meses.
Em um primeiro momento, ela avalia, parte daqueles que perderam a vaga pode preferir apoiar-se no seguro-desemprego ou em outras fontes de renda, especialmente nos últimos meses do ano, antes buscar um novo trabalho.
Entre janeiro e novembro, o total de pessoas fora do mercado de trabalho, mas que declararam ao IBGE que gostariam e estavam disponíveis para trabalhar aumentou 8% em relação ao mesmo intervalo de 2014. Em outubro e novembro, o grupo cresceu 14% e 21,1%, respectivamente, também na comparação anual. "Isso significa que teremos uma piora acentuada da taxa no próximo ano, pois em algum momento este contingente voltará ao mercado", ressalta.
Os economistas são unânimes na avaliação de que o desemprego continuará subindo no próximo ano, mais uma vez combinado à contração da renda. Nos primeiros meses, destaca Camargo, além dos efeitos negativos da recessão, o mercado de trabalho também sentirá o impacto da "reoneração" da folha de pagamentos. Por aumentar o custo do trabalho com carteira assinada, ele avalia, a medida deve pressionar o avanço do desemprego e, em parte, da informalidade. Tomando como base a Pnad Contínua, pesquisa que substituirá a PME a partir do próximo ano, a taxa, atualmente em 8,9%, deve chegar a dois dígitos ainda no primeiro trimestre.
Nas estimativas da LCA, o desemprego médio medido da PME deve passar de 4,8% em 2014 para 6,9% neste ano e 8,9% em 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário