Por Fernando Torres, Fernanda Pires, Eduardo Laguna, Alessandra Saraiva e Carolina Oms – Valor Econômico
SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA - Por qualquer critério que se use, seja os cálculos da Polícia Militar (PM), dos organizadores ou mesmo do Datafolha, as manifestações de ontem a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff atraíram menos pessoas às ruas do que os protestos contra o governo dela realizados em março, abril e agosto.
Se os três eventos anteriores reuniram milhões de brasileiros, nas contas dos organizadores, ou centenas de milhares, conforme dados da PM, desta vez a escala diminui para dezenas ou centenas de milhares, o que implica dizer que a adesão diminuiu entre 80% e 90%.
Combinando dados da PM e também a pesquisa Datafolha, 90 mil pessoas foram às ruas ontem, ou 400 mil segundo os participantes. Na média dos três eventos anteriores, tinham sido cerca de 900 mil segundo fontes oficiais e 2,1 milhões nas contas dos organizadores.
Em São Paulo, a PM estimou 30 mil participantes, o Datafolha calculou 40 mil e o movimento "Vem pra Rua", um dos organizadores falou em 100 mil pessoas.
Os organizadores de grupos como "Vem Pra Rua" e "Movimento Brasil Livre" citaram vários fatores para justificar a forte diminuição de presença de manifestantes, entre as quais o pouco tempo para mobilização desde a convocação da população por meio das redes sociais.
Entre o acolhimento do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), e ontem, se passaram dez dias.
Uma diferença para as manifestações anteriores também foi o motivo específico para a convocação. Enquanto as outras tratavam de temas mais genéricos, procurando atrair aqueles "contra a corrupção", desta vez a principal bandeira era mesmo a saída da presidente Dilma do cargo.
O líder do movimento Vem Pra Rua, Rogério Chequer, reconheceu que o protesto realizado na tarde de ontem na Av. Paulista reuniu menos gente do que as manifestações anteriores contra o governo. Ele, porém, atribuiu a menor participação ao pouco tempo que os organizadores do ato tiveram para mobilizar insatisfeitos com a presidente Dilma.
Segundo Chequer, o protesto deste domingo procurou reforçar o discurso de legalidade do processo de impeachment porque o governo vem insistindo na tese de que a oposição quer promover um "terceiro turno" da eleição presidencial.
Embora a defesa do processo de impeachment fosse o principal foco do protesto, havia gritos e faixas contra o PT, contra a corrupção e também visando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um boneco enorme do ex-presidente vestido como presidário, uma das marcas nos protestos contra o governo, foi instalado numa das pistas da avenida ao lado de outro boneco de igual tamanho retratando a presidente Dilma.
Em frente ao prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) havia outro boneco gigante, em formato de "pato", que é o símbolo da campanha da entidade contra a alta de impostos, em especial a volta da CPMF, desejada pelo governo.
Os manifestantes presentes à avenida Paulista cobravam também a cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e criticavam a estigmatização dada a quem está contra o governo e cobra a saída de Dilma. "Se todos aqui fossem elite, não teríamos motivos para estar nas ruas", disse um dos manifestantes.
"Ninguém aqui é golpista. Queremos defender a democracia, queremos defender a República", disse o líder do Movimento Brasil Livre, Kim Kataguiri.
No Rio, o protesto em prol do impeachment começou ao som do hino nacional, com cerca de 300 pessoas caminhando pela orla de Copacabana. Aos gritos de "Fora Dilma" e "Lula na cadeia" os manifestantes conclamavam os passantes, entre eles banhistas que iam a praia, a se reunirem ao ato.
Ambulantes aproveitaram o ato para vender faixas e bandeiras com os dizeres de "fora Dilma" e "fora corrupção", com preços entre R$ 5 e R$ 10. Eles reclamaram, porém, que as vendas foram melhores nos atos anteriores. "Estive em todas as manifestações contra a Dilma aqui em Copacabana. As outras venderam mais faixas", afirmou o ambulante Luís Cláudio Nascimento, de 48 anos.
Ao fim do evento, no entanto, um dos representantes do Movimento Brasil Livre, bacharel em Relações Internacionais Lucas Saboia, estimou a participação em 100 mil pessoas. "Foi muito maior do que esperávamos. Eu achava que conseguiríamos em torno de cinco a dez mil pessoas", afirmou.
Ainda no Rio, sobrou para políticos que, na visão dos organizadores, dão apoio a Dilma, como o governador do estado do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), deputado Leonardo Picciani, ex-líder do PMDB na Câmara, e os deputados Jean Willys (PSOL) e Jandira Feghali (PCdoB).
Em Brasília, manifestantes reunidos em frente ao Congresso Nacional prometeram protestar em frente às casas dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. No carro de som, os manifestantes acusaram o ministro Edson Fachin, que suspendeu o andamento do processo de impeachment na Câmara até análise do pleno do STF no dia 16, de querer legislar e afirmaram que ministros que fizeram campanha na eleição deveriam se declarar impedidos - nas eleições de 2014, Fachin aparece em um vídeo apoiando a eleição de Dilma para a presidência.
Com o protesto ocorrendo no dia em que o AI-5 (Ato Institucional) da ditadura militar completa 47 anos, alguns manifestantes também pediram intervenção para que os militares voltem ao poder. Embora alguns manifestantes tenham recusado o discurso, os intervencionistas foram acolhidos pela organização do movimento.
No gramado da Esplanada dos Ministérios, faixas pediam intervenção militar, "fora comunismo", "Fora PT" e "Abaixo a mídia pelega vendida a covardes".(colaboraram Sergio Bueno e Marcos de Moura e Souza, de Porto Alegre e Belo Horizonte)
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