• Leonardo Picciani vence a disputa pela liderança na Câmara e enfrentará missões em que será testado na sua capacidade de unir um partido acostumado à divisão
A disputa pela liderança da bancada do PMDB na Câmara, da qual o candidato do Planalto, Leonardo Picciani ( RJ), saiu vencedor é sem dúvida uma boa notícia para a presidente Dilma. Pouco importa que a vitória sobre Hugo Motta ( PB), representante do presidente da Casa, Eduardo Cunha ( RJ), inimigo do Palácio, tenha sido por apenas sete votos — e mesmo assim porque Picciani foi beneficiado pela volta de deputados titulares a seus postos, apenas para lhe darem seus votos.
Até o ministro da Saúde, Marcelo Castro, deixou de lado o combate à zika e ao Aedes aegypti, motivos de uma emergência mundial, para ajudar a eleger o deputado fluminense.
O placar de 37 a 30 pode ser apertado, mas com ele o governo ganha alguma margem de manobra para, com o apoio de Picciani, enfrentar duros desafios na política e na economia. E ainda comemora o que pode ser o início do esvaziamento do arqui- inimigo Cunha, mestre em usar os poderes de presidente da Casa para retardar o processo de sua cassação empacado no Conselho de Ética por este mesmo motivo. Agora, Cunha não terá um líder cúmplice de manobras protelatórias.
Não é a primeira vez, nem será a última, que o PMDB digladia dentro dele mesmo, no choque entre governistas e oposicionistas. É assim desde o velho MDB, no início da redemocratização, ainda na ditadura, rachado entre “autênticos” e “moderados”. Vem dali a arte de navegar com os pés em duas canoas e de estar no poder como sócio preferencial, sem pagar o ônus do seu exercício.
A tensão continuará a existir. Picciani terá de manejar com ela e ao mesmo tempo convencer o partido a apoiar projetos do Planalto, mesmo aqueles que não contam com a simpatia do próprio partido da presidente, o PT.
Enquanto o front da guerra do impeachment está congelado, à espera da resposta a embargos encaminhados ao STF por Cunha, sobre a tramitação do processo no Congresso, Leonardo Picciani terá de começar a se desdobrar para, por exemplo, unir o PMDB em torno da volta da mais do que impopular CPMF. Ossos do ofício. À medida que a recessão avança, o desemprego cresce e a inflação continua elevada, fica muito evidente que o Planalto prefere passar o maior peso do ajuste para as costas da sociedade, esta já num ciclo de empobrecimento. A CPMF é o símbolo desta postura.
Levar o PMDB a apoiar a reforma da Previdência bombardeada pelo PT é outro desafio. O PSDB já condicionou qualquer apoio à imprescindível atualização das regras previdenciárias à concordância dos petistas, um lance de esperteza, porque o PT racha diante desta reforma. Mas Picciani terá de ficar firme ao lado do Planalto.
Não há dúvida que, apesar dos clássicos discursos pela união do partido, proferidos após a vitória de Picciani, tudo continuará na mesma. Separados, mas juntos.
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