- O Globo
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirma que não vê espaço neste momento para a queda dos juros porque o índice de inflação está alto demais. Em entrevista à colunista MÍRIAM LEITÃO, disse que houve "interferência zero" na decisão do Copom de manter as taxas inalteradas em janeiro. Para Tombini, a inflação, no acumulado de 12 meses, começará a cair em fevereiro. Apesar das previsões pessimistas de analistas, ele afirma ainda que até o fim do ano o país retomará o crescimento. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que não há espaço para queda de juros. Apesar da forte contração da economia, registrada no IBC- Br negativo em 4,1% divulgado ontem, ele disse que com a inflação no nível em que está não há como falar em “distensão monetária”. Tombini afirma que a inflação anual deve cair dois pontos percentuais no primeiro semestre.
Eu o entrevistei em seu gabinete em Brasília, em meu programa na Globonews. Quando perguntei se havia espaço para a queda de juros, que começa a frequentar alguns cenários, ele foi taxativo:
— Hoje estamos com inflação de 11% e com expectativa do mercado, grosso modo, de 8% este ano e de 6% no ano que vem, no limite superior da banda. Nestas circunstâncias, não há que se falar em distensão monetária. A cada seis semanas vamos fazendo as reuniões, avaliando o cenário, vamos ver se é preciso fazer mais em termos de política monetária. Esse é um processo no qual vamos pensar, mas esse quadro atual não permite pensar em distensão monetária.
Quis saber se houve interferência política na última reunião do Copom em que os sinais foram contraditórios e depois o BC não subiu juros:
— Zero de interferência política. Os jornais mesmo retrataram várias opiniões de economistas, alguns dizendo que estávamos em dominância fiscal e que não adiantava subir juros, outros que diziam que era um absurdo não elevar. Cada um dizendo uma coisa. A decisão foi a mesma que havia sido tomada em novembro. Pensamos no estado da economia e as questões internacionais. Houve uma mudança recente de vários bancos centrais em relação à avaliação da situação econômica. Talvez tenhamos sido os primeiros a fazer este movimento.
Perguntei qual era a sua principal preocupação, recessão ou inflação, e ele disse que a missão do Banco Central é a estabilidade monetária. Mas falou também de recessão, até pelo número divulgado ontem:
— De fato, o que os dados mostram é que a economia brasileira está em forte contração em 2015 e 2016. Teremos algum crescimento mais para o fim do ano, entrando em 2017 com crescimento econômico no Brasil. Ninguém gosta de contração econômica e vários fatores estão provocando isso e alguns são não econômicos, como a crise política. Mas essa contração tem uma força deflacionária forte que vai começar a ser sentida em fevereiro. Os preços administrados quando comparados com os preços livres já estão em níveis de 2010. O custo unitário do trabalho caiu 40% em dólar em relação a 2014. A inflação de aluguéis em São Paulo caiu 3%. A economia está se ajustando.
Tombini disse que espera que até o fim do semestre a inflação em 12 meses caia dois pontos percentuais. Disse que seus cenários são mais otimistas do que os do mercado, mas, se ficar apenas com o que o mercado projeta, o país terá três pontos de “desinflação” este ano e mais dois no ano que vem. Apesar dessa tendência, Tombini disse que a economia sofreu vários choques nos últimos tempos, como a desvalorização e a alta das tarifas, por isso a política monetária tem que evitar a propagação desses choques.
Para Tombini, o rebaixamento é mais um alerta da necessidade de se avançar na área fiscal. Falou das reformas que o governo já teria colocado em debate, e da introdução dos limites de gastos que está sendo formulada pelo Ministério da Fazenda. Defendeu a CPMF como uma ponte. Mas garantiu que há movimento para inverter a curva de dívida e de déficit:
— A questão fiscal vai ser atacada, está na preocupação dos atuais governantes. Não é uma questão em aberto, desatendida, que vai piorando sem limites.
Argumentei que os números mostram um país que está indo para o terceiro ano de déficit primário e no qual a dívida pública está em 66% com projeção de 80% em 2018. Números de um país piorando.
— O mais importante é colocar a trajetória da dívida/ PIB em perspectiva de estabilidade para posterior declínio — respondeu.
Tombini avalia que a situação internacional está menos favorável, mas não é véspera de uma crise financeira como a de 2008, porque os bancos estão menos alavancados e as economias se ajustaram. O que há agora é uma crise de crescimento, que leva a uma revisão das perspectivas em todas as economias.
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