- Folha de S. Paulo
A gente ouve falar muito da queda das vendas de automóveis, um termômetro pop da crise. No ano passado, a baixa foi de horríveis 25,5%. A gente ouve menos a respeito das vendas de imóveis, mercado que ganhou importância maior na economia na década passada.
Pois bem. Ou mal. No ano passado, o número de imóveis vendidos caiu 15,1% no Brasil, segundo os dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Cai o número de unidades lançadas, baixa de 19,3% em relação a 2014. Cai também preço médio do metro quadrado, cai o preço médio dos aluguéis de contratos novos.
Antes de prosseguir, abra-se um parêntese prático a respeito de aluguéis. Considere-se o preço médio do aluguel de novos contratos (não daqueles de imóveis já alugados). Em São Paulo, por exemplo, o preço médio do aluguel "novo" baixou 12,7% nos últimos 12 meses contados até janeiro (em termos reais: considerada a inflação medida pelo IGP-M. Sem levar em conta a inflação, a queda foi de 3,2%, dado do Secovi).
Isto é, se o seu aluguel velho está sendo reajustado pelo IGP-M, em um ano sua conta ficou quase 13% mais cara que a de um contrato novo. Trata-se de uma média, atenção. Não existe apenas um, mas vários mercados de imóveis. O preço de casas pode variar em meras duas esquinas.
Ainda assim, convém pensar em renegociação de contratos ou procurar alternativas. Enquanto o aluguel novo na média caiu cerca de 3,2% (em termos nominais), a média de todos os aluguéis em São Paulo ainda subiu 7,2%, segundo o IPCA do IBGE. O preço do aluguel "velho" não está seguindo o "novo". Há algum espaço para negociação aí. Fecha-se o parêntese.
O preço do metro quadrado nacional caiu 9,4% nos 12 meses até janeiro, contas feitas com os dados da Fipe-Zap. Em São Paulo, a baixa é de 7,8%. Até novembro, dado mais recente, a queda das vendas na região metropolitana de São Paulo era de 18%, segundo o Secovi: de quase 42 mil imóveis por ano para pouco mais de 34 mil.
Ou seja, o comércio, a construção e os preços dos imóveis despencam. Nenhuma surpresa, claro, dados os juros maiores, o crédito mais difícil e a profunda desconfiança do consumidor. Ou melhor, existe uma certa diferença no mercado imobiliário: preços menores. No mais, a inflação do Brasil anda resistente.
Quem sabe o ajuste de preços contenha o ritmo de degradação do mercado imobiliário. Porém, é difícil imaginar recuperação quando se trata de bens de valor tão alto e de envolvimento financeiro de longo prazo quando as perspectivas são de aumento de desemprego por mais dois anos e de crédito minguante ainda neste ano.
Mau sinal, pois o negócio imobiliário se tornou mais relevante na última década, repita-se. O total de dinheiro emprestado (estoque de crédito) para a compra de imóveis equivalia a 1,5% do PIB em 2007 (isto é, em relação ao tamanho da economia brasileira). No final de 2015, o estoque de crédito imobiliário chegara a 9,7% do PIB.
É fácil perceber que a baixa da construção arrasta consigo vários setores. Siderurgia, cimento, vidros, química, máquinas e ferramentas, móveis, madeira etc. É uma desgraça com um longo encadeamento.
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