- O Globo
O aniversariante do dia está há 13 anos no poder e se preparou para a festa formulando um “plano de emergência econômica”. Isso confunde. Afinal, planos de emergência são formulados pela oposição, quando se convence de que o governo levou o país para a bancarrota. O partido que nos governa quer propor soluções emergenciais contra os efeitos de sua própria política.
Confuso. O PT quer salvar o país dos efeitos do que fez. Melhor não. Quem nos trouxe até aqui não saberá nos tirar. Seu conjunto de convicções econômicas foi posto em prática por 13 anos, tem um horizonte de mais três anos e, a menos que o partido mude completamente, o que ele receitará será mais da mesma política que nos arruinou.
Vasculhe-se a história econômica do Brasil e não se encontrará queda tão intensa quanto esta. Dois anos seguidos com recessão de 4%. Até o fim de 2017, o país terá tido quatro anos de estagnação ou queda. A inflação em dois dígitos trazendo de volta o fantasma de um inimigo contra o qual lutamos por décadas. A dívida subindo, e o desemprego crescendo.
Não há ambiente mais deletério do que o desemprego. Ele ameaça as famílias com a desorganização financeira e o medo. Quem não foi diretamente atingido teme ser a próxima vítima. O desemprego tem crescido ao nível anual de 40% quando se comparam os dados recentes com os de um ano atrás.
O Brasil tem duas estatísticas. Uma delas deu 7,6% esta semana, mas este indicador, a Pesquisa Mensal de Emprego, está saindo de linha. Deixará de ser divulgado no mês que vem porque investiga o que se passa em apenas seis regiões metropolitanas. O outro indicador marca 9% de desemprego e este, a Pnad Contínua, permanecerá medindo o que se passa em 3.500 cidades brasileiras. Nesse indicador, o aumento do desemprego foi de 2,7 milhões de pessoas de um ano para o outro, e as projeções são de que, no mínimo, um contingente da mesma magnitude engrossará o exército de desempregados durante este ano de 2016.
O país precisa de um plano de emergência econômica, mas ele não pode ser formulado pelos mesmos que nos trouxeram até aqui. Num processo doentio de dupla personalidade, o PT diz que não é dele a atual política. Quando a infeliz Nova Matriz Macroeconômica, de matriz petista, era implantada, o partido se vangloriava de “nunca antes neste país”. Os que alertaram para os riscos daquele caminho foram hostilizados. Agora que as previsões do fracasso se confirmaram, o PT diz que não é dele a política de Dilma. Seria, se fossem outros os indicadores.
A presidente e o PT vivem um casamento complexo. Estão juntos na saúde, mas na doença se separam. Na crise, o PT dá seguidos sinais de que o plano de emergência da sigla é se salvar, acusando o governo da petista Dilma. Um casamento com separação de corpos.
Esta semana, a separação do casal PT-Dilma levou o presidente do PT, Rui Falcão, a chamar de “atentado à soberania nacional” o projeto que retirou a exclusividade da Petrobras nos campos do pré-sal. O governo Dilma apoiou a proposta do senador José Serra, e ela foi aprovada no Senado. Falcão não considera atentado a incalculável destruição de riqueza que a gestão petista, pelos caminhos escolhidos ou por descaminhos, impôs à estatal. Ele se ofende apenas com a proposta de o país se adequar à realidade dos cofres exauridos da Petrobras, permitindo, caso a estatal não queira operar os campos, que eles sejam licitados para outras empresas. A reação do partido é uma forma de tentar alcançar o imaginário popular que liga o monopólio da Petrobras à soberania nacional, mas também de se distanciar um pouco mais de Dilma.
Nos ciclos vividos pelo presidencialismo de coalizão, o poder atrai. Quando está tudo bem, é fácil para o chefe do governo atrair os integrantes da sua coalizão mesmo quando a pessoa que exerce o cargo não tem as habilidades de liderança, como é o caso. O inverso acontece nos momentos de baixa, porque a perda do poder afugenta. É o que se vive desde o momento em Dilma despencou nas pesquisas de opinião. Esta semana o PMDB falou como oposição no seu programa, mas pelo menos disse a frase “erros que nós cometemos”. O PT quer se separar de Dilma sem sequer admitir os erros que juntos cometeram.
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