• O PT já largou Dilma; o que o partido quer é salvar Lula, por acreditar que ele é o único a livrar a legenda da ruína, mas a aposta numa ruptura é alta demais
- O Globo
A distância entre o PT e Dilma Rousseff atingiu seu pico nos últimos dias. E só tende a crescer daqui para frente. Dilma decidiu não ir hoje à festa de aniversário do PT para não ter que ouvir discursos e mais discursos condenando sua política econômica e as mudanças no pré-sal (embora até ontem à noite, ela ainda ouvisse apelos para que mudasse de ideia). Um sinal explícito da fissura. Embora, não seja a primeira vez que Dilma deixe a cadeira vazia num evento do PT, essa ausência ocorre num momento único — que junta uma crise econômica aguda com o esfarelamento da credibilidade do partido com as revelações da Lava-Jato. Mas a aposta numa ruptura é alta demais. Ainda que, de parte a parte, só se ouçam xingamentos e reclamações, Dilma depende do PT e vice-versa.
O que não se verá mais, contudo, é sua defesa pelo partido. O PT já largou o governo Dilma — não os cargos, mas isso é outra história. A essa altura, o que o partido quer é salvar Lula por acreditar que ele é o único que pode tirar a legenda da ruína. Ou, como me disse ontem, um dirigente petista: “O governo acabou, precisamos defender o Lula”. Distanciar-se de Dilma é, portanto, uma questão de sobrevivência — eis um consenso entre os lulistas. Dilma, para essa turma, optou por uma agenda negativa.
Os petistas acham que eleger a (necessária) reforma da Previdência como uma das âncoras do governo é dizer amém ao mercado. Também não admitem qualquer alteração na fórmula de reajuste do salário mínimo. A presidente vê a coisa de outro modo. Tem dito que o PT parece não querer entender que o dinheiro acabou. Para tentar contrabalançar os discursos que ecoarão hoje no encontro do PT, Dilma já decidiu falar sobre economia na semana que vem. Um discurso que vai mirar justamente o mercado, a quem ela sabe que precisa reconquistar. Sem isso, nada de investimentos. Sem investimentos, o PIB não cresce. É irônico constatar que o PT e o mercado concordam quando o assunto é Dilma: ambos não confiam na presidente.
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