• Planilha indica repasses de R$ 4 milhões no fim da campanha de Dilma
• De acordo com a força-tarefa da Lava-Jato, o dinheiro teria sido usado para quitar dívidas eleitorais; para Moro, valores são vultosos e mostram proximidade de João Santana com a empreiteira
Planilha encontrada pela Lava-Jato indica que o marqueteiro João Santana recebeu, no período da campanha da presidente Dilma à reeleição, R$ 4 milhões da Odebrecht. Um total de sete repasses foi registrado entre outubro e novembro de 2014. Os pagamentos, segundo a Lava-Jato, teriam sido feitos para quitar dívidas de campanha. Ao renovar a prisão de Santana e de sua mulher e sócia, Mônica Moura, o juiz Sérgio Moro afirmou que os repasses indicam uma proximidade do marqueteiro com a Odebrecht “muito maior” do que fora admitido à PF.
Repasses durante campanha
• Planilha mostra que Odebrecht pagou, no Brasil, R$ 4 milhões a João Santana na época da eleição
Cleide Carvalho e Renato Onofre - O Globo
SÃO Paulo - Os investigadores da Operação Lava-Jato encontraram indícios de que a construtora Odebrecht repassou R$ 4 milhões ao marqueteiro João Santana durante o período da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, em 2014. Os pagamentos foram feitos no Brasil, na reta final da eleição e, para a força-tarefa, podem ter sido usados para quitar dívidas da campanha.
Santana e a sua mulher e sócia, Mônica Moura, estão presos desta terça-feira na sede da Polícia Federal de Curitiba, acusados de receber no exterior US$ 7,5 milhões da empreiteira e do operador de propina Zwi Skornicki em uma conta não declarada na Suíça. A Lava-Jato investiga se os recursos usados para pagar o publicitário foram desviados dos cofres da Petrobras.
O juiz Sérgio Moro afirmou ontem, em despacho onde renovou a prisão temporária do casal, que os pagamentos “vultosos em reais” para João Santana, feitos pela empreiteira entre outubro e novembro de 2014, indicam um relacionamento “muito maior” do que ambos admitiram à Polícia Federal em depoimento.
Offshores pagaram propina na Petrobras
Mônica disse aos investigadores que a Odebrecht usou caixa dois para pagar parte da última campanha presidencial do líder venezuelano Hugo Chávez, morto em 2013. A força- tarefa afirma que depósitos ao casal foram feitos pelas mesmas offshores usadas pela construtora para pagar propina aos ex-diretores da Petrobras Renato Duque (Serviços) e Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e ao ex-gerente Pedro Barusco.
“Os investigados podem estar incursos em práticas delituosas bem mais graves, como lavagem de dinheiro e corrupção. Não vislumbro ainda como banalizar a prática de fraudes, com utilização de recursos escusos ou pelo menos não contabilizados, em campanhas eleitorais, quer no Brasil ou no exterior, considerando a consequente afetação da integridade do processo político democrático. Nada há, portanto, de banal nessas condutas”, escreveu Moro.
A PF anexou ontem ao inquérito da Operação Acarajé documentos apreendidos com a secretária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, também presa esta semana. Uma das planilhas encontradas tinha o título “Feira-evento 14”. O documento detalha sete pagamentos feitos entre 24 de outubro e 7 de novembro de 2014, totalizando R$ 4 milhões. Os investigadores afirmam que “Feira” é o apelido usado por funcionários da Odebrecht e o próprio ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, para identificar a mulher do marqueteiro, que cuidava das negociações financeiras do casal e da agência de publicidade Pólis, que comandou as campanhas da presidente Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, e a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.
Até a quinta-feira, a PF achava que “Feira” era João Santana, mas mudou ao ter acesso a documentos que fazem referência ao apelido da mulher do marqueteiro. A descoberta foi reforçada após a Mônica dizer à PF que nasceu no município baiano de Feira de Santana.
Os investigadores encontraram ainda bilhetes em uma agenda apreendida no escritório de Maria Lúcia com anotações feitas por Mônica e a referência ao termo “Feira”. Em um dos bilhetes, Mônica informa seus telefones pessoais. No outro, a publicitária indica locais e horários em que poderia ser encontrada.
Doações oficiais não coincidem
Oficialmente, o Grupo Odebrecht doou R$ 14 milhões à campanha da presidente Dilma em 2014. Os repasses, feitos através da conta eleitoral da presidente, não ocorreram nos dias listados na planilha apreendida. O documento indica ainda que os repasses da Odebrecht para Santana não ficaram restritos ao período eleitoral. De acordo com a planilha, o casal pode ter recebido outros R$ 20 milhões da empreiteira, o que totalizaria R$ 24,2 milhões.
Agora, os investigadores tentam saber se os pagamentos feitos pela empreiteira tem relação direta com campanhas eleitorais no Brasil. Além da campanha de Dilma, a PF analisa se os recursos foram para campanhas municipais de políticos ligados ao PT, em 2008.
Para a PF, há indicação de pagamentos da Odebrecht ao marqueteiro referentes às eleições municipais no Brasil em 2008. Em depoimento, João Santana confirmou ter atuado nas eleições municipais para candidatos petistas como as senadoras Marta Suplicy (SP), hoje no PMDB, e Gleisi Hoffmann (PR), que já é investigada na Lava-Jato, e o deputado Vander Loubet (MS).
O Planalto informou que não vai comentar o caso. Através da assessoria, a Odebrecht afirmou que “não tem conhecimento da planilha apresentada pela autoridade policial e não tem como comentar a sua veracidade ou significado”. Gleisi Hoffmann disse, através de sua assessoria, que não teve acesso à planilha citada e que todas as doações para sua campanha foram declaradas à Justiça Eleitoral. Marta Suplicy não respondeu os contatos da reportagem.
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