sábado, 27 de fevereiro de 2016

Opinião do dia – José de Souza Martins

No caso brasileiro, a ruptura teve início antes da queda do muro de Berlim, em 1989, com a crise da ditadura, ela própria um dos produtos da Guerra Fria. E, também, com manifestações das oposições ao regime em favor de uma nova ordem política, que culminaria com o fim da ditadura militar em 1985. O surgimento do PT, em 1980, ainda no quadro da polarização ideológica capitalismo-comunismo, já expressava, no entanto, o advento da nova ordem mundial, ainda que nos quadros mentais da cultura da polarização dicotômica entre direita e esquerda. A nova realidade política pautada não por novas categorias interpretativas, mas por aquelas da realidade que perecia. Um caso de falsa consciência e mesmo de demora cultural, como diziam antigamente os antropólogos para situar e explicar as mudanças sociais não compreendidas por seus próprios agentes. É por aí que se entende que o PT tenha inventado sua própria “direita” para continuar decifrando a política no marco obsoleto da guerra fria, historicamente superada: definiu como “de direita” todos os partidos e todas as pessoas que não estivessem alinhados com o petismo. Autoproclamou-se “a esquerda” sem sê-lo, aglutinação e síntese que veio a ser de diferentes grupos políticos, em boa parte, no passado, eram pela esquerda definidos como de direita.
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José de Souza Martins, ‘Do PT das lutas sociais ao PT do poder’, p. 12. Editora Contexto, São Paulo, 2016.

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