Por Leandra Peres, Lucas Marchesini e Bruno Peres - Valor Econômico
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto está negociando com partidos da base governista um novo bloco de apoio no Congresso Nacional em resposta ao rompimento do PMDB com o governo. Para isso, pretende usar os cargos hoje ocupados por pemedebistas para ampliar o espaço de aliados como PSD, PP e PR e conter a debandada nesses partidos.
O ministro-chefe do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner, disse que até sexta-feira devem ser anunciadas mudanças na composição do governo. Numa declaração dura e dirigida diretamente ao vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), o ministro afirmou ainda que a relação política da presidente Dilma Rousseff com o seu vice está "interditada".
"[A saída do PMDB] chega em boa hora [porque] oferece a presidente Dilma Rousseff uma ótima oportunidade de repactuar o seu governo. Poderia até falar de novo governo, no sentido que sai parceiro importante então abre espaço político para repactuação de governo", avaliou Wagner.
A estratégia desenhada pelo governo dobra a aposta na capacidade do Planalto de garantir os votos necessários para barrar o impeachment numa negociação de "varejo" e no confronto direto com o ex-aliado.
Nos bastidores, o Planalto diz que pemedebistas preocupados com a perda de cargos já procuraram o governo para conversar e sinalizaram que o alinhamento com a cúpula do partido não é integral. Uma mostra disso, segundo o Palácio, é que nenhum outro ministro seguiu a decisão de Henrique Eduardo Alves, do Turismo, que entregou sua carta de demissão à presidente e um dos aliados mais próximos do vice-presidente Temer.
O governo também pressiona para que os ministros Helder Barbalho (PMDB-PA) e Eduardo Braga (PMDB-AM) continuem nos cargos. Ao mesmo tampo avisa que a manutenção dos cargos dependerá da capacidade de os ministros garantirem votos. "Não interessa ao Palácio imobilizar seis ministérios sob o comando do PMDB para garantir só 25 votos", diz uma autoridade.
A "repactuação" da base aliada, pelos planos do governo, não ficará restrita apenas à votação do afastamento da presidente Dilma. O objetivo é que esse novo arranjo seja suficiente para demonstrar que, mesmo com uma base aliada mais enxuta, o governo terá capacidade de aprovar projetos de sua pauta econômica, vencido o impeachment.
No Congresso, a reação da bancada petista ecoou a estratégia do Planalto. O vice-líder do governo na Câmara, Paulo Teixeira (PT-SP), disse que a parcela do partido que está desembarcando nunca esteve alinhada à presidente Dilma Rousseff. "O PMDB que sairá é o PMDB que nunca esteve [no governo]. É do lado da conspiração", afirmou Teixeira.
O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), atacou diretamente o vice-presidente. "O Michel Temer migrou de constitucionalista para golpista", afirmou o petista.
O ministro Jaques Wagner voltou a falar no impeachment como "num golpe disfarçado" por não cumprir o requisito legal de ter acontecido no atual mandato da presidente. E explicou que existe uma agenda positiva que inclui as entrevistas concedidas pela presidente Dilma Rousseff, manifestações de rua e de intelectuais a favor do governo e o lançamento do Minha Casa Minha Vida 3, prevista para hoje, como esforços para conseguir os votos contra o impeachment. "Se alguém com 54 milhões de votos tem dificuldade, quem não tem terá dificuldade ainda maior?"
Apesar do discurso incisivo do Palácio do Planalto, o governo deverá encontrar dificuldades para atrair partidos para a base, inclusive os médios como o PP e o PSD. No caso do PSD, o ministro Gilberto Kassab (Cidades), que também é fundador e presidente do partido, pretende liberar seus deputado para a votação do impeachment. Kassab está sendo pressionado especialmente pelos candidatos a prefeito nas eleições de outubro. (Colaboraram Thiago Resende e Raphael Di Cunto)
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