• Cúpula do PT teme depoimento do ex-secretário geral do partido
Cleide Carvalho, Sérgio Roxo, Thiago Herdy e Tiago Dantas - O Globo
CURITIBA e SÃO PAULO - Retirado do ostracismo e preso ontem na 27ª fase da Lava-Jato, Sílvio Pereira, ex-secretário geral do PT e braço-direito do ex-ministro José Dirceu, não aceitou apenas uma Land Rover “de presente” da empresa GDK, fornecedora da Petrobras, como foi revelado na época do mensalão. As investigações da Polícia Federal mostram que Silvinho, como é conhecido, recebeu R$ 1,1 milhão de empreiteiras ou operadores de propina no esquema da Petrobras entre 2009 e 2012.
A prisão de ontem deixou a cúpula do PT em alerta, porque o histórico do ex-dirigente mostra que ele não reage bem sob pressão. Em 2006, em entrevista ao GLOBO, Silvinho revelou detalhes sobre o funcionamento do mensalão, disse que o plano do operador Marcos Valério era arrecadar R$ 1 bilhão com negócios que envolviam pendências do governo e falou sobre o envolvimento da cúpula partidária nas irregularidades. Ao final da entrevista, arrependeuse do que havia falado e quebrou objetos em seu apartamento. A avaliação na cúpula petista é que qualquer menção a Lula que possa ser feita agora por Silvinho vai contribuir para desgastar a imagem do ex-presidente.
Logo depois que veio à tona a história do Land Rover, em 2005, Silvinho se desfiliou do PT. Mas os investigadores da Lava-Jato suspeitam que o afastamento ficou apenas no papel, porque ele continuou a receber propina para não contar o que sabia. Em janeiro passado, o lobista Fernando Moura afirmou aos investigadores que Silvinho era beneficiário de um “cala-boca” mensal de R$ 50 mil.
Levantamento feito pela força-tarefa da Lava-Jato mostra que os pagamentos ao ex-petista foram feitos por meio de duas empresas das quais ele foi sócio, a DNP Eventos e a Central de Eventos e Produções. A quebra do sigilo bancário indica que a OAS pagou à DNP R$ 486,1 mil entre 2009 e 2011. Em 2011, a UTC Engenharia, do empresário Ricardo Pessoa, um dos delatores da Lava-Jato, repassou R$ 22,5 mil para a empresa. O delator Júlio Camargo pagou R$ 12,3 mil à DNP em 2012. A Projetec, do também delator e empresário Augusto Mendonça Neto, fez depósitos, em 2010, num total de R$ 154 mil. Outros R$ 50 mil foram pagos em 2009 à Central de Eventos pela empresa SP Terraplanagem, uma das empresas de fachada controladas por Adir Assad, condenado na Lava-Jato.
O Ministério Público Federal também identificou pagamentos de R$ 400,4 mil da TGS Consultoria, outra empresa que movimentou propina, para a Central de Eventos, empresa de Júlio César dos Santos, amigo e sócio do ex-ministro José Dirceu, para a DNP. Júlio César chegou a ser preso e responde ação no âmbito da Lava-Jato por lavagem de dinheiro e associação criminosa.
No despacho em que decretou a prisão temporária de Silvinho, o juiz Sérgio Moro afirma que as duas empresas do ex-secretário do PT não aparentam ter estrutura compatível com os valores recebidos. No endereço da DNP, existe apenas um restaurante pequeno. O endereço da Central de Eventos não foi localizado.
O ex-dirigente petista foi preso na casa onde vive em um condomínio fechado em Carapicuíba, na Região Metropolitana de São Paulo. O imóvel foi comprado em 2010 por R$ 600 mil. Desde que seu nome surgiu na Lava-Jato, Silvinho tem tentando submergir, como fez na época do mensalão. No segundo semestre do ano passado, ele fechou o restaurante que tinha em Osasco, também na Grande São Paulo, e encerrou as atividades da DNP.
O responsável pela defesa de Sílvio Pereira não foi localizado. O advogado que o defendeu no mensalão informou que não trabalha mais para o ex-dirigente petista.
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