• Depois da operação na Itália, quando partidos fortes acabaram, Berlusconi agiu para que jamais haja uma investigação como aquela. Lição para o Brasil
À margem do processo de impeachment da presidente Dilma, surgem temores quanto ao futuro da Operação Lava-Jato, os quais cresceram a partir do momento em que passou a ficar claro que o PMDB, ou a parcela dele mais próxima ao vice Michel Temer, desembarcaria do governo.
Com a defecção, grave para os planos lulopetistas de se manter no Planalto, surgiram rumores da possibilidade de um “acordão” pelo qual atingidos pela Lava-Jato e vítimas em potencial da força-tarefa de Curitiba — um universo pluripartidário, inclusive com gente da oposição — se entenderiam em torno da defenestração de Dilma, tendo como objetivo comum desmontar a operação.
Descontadas visões conspiratórias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já alertou, em vídeo, ser inaceitável qualquer barganha com vistas a um novo governo que prejudique a Lava-Jato. Enquanto o vice Michel Temer, por força de lei o próximo ocupante do gabinete presidencial caso Dilma seja impedida, aproveitou encontro com empresários em São Paulo para desmentir notícias “plantadas e adubadas” de que trabalharia para estancar o trabalho do juiz Sérgio Moro e da força-tarefa.
Mas é fato que, se no governo Dilma há muitos desgostosos com a Lava-Jato, num governo Temer ocorrerá o mesmo. Apenas para se ficar no PMDB, boa parte da cúpula do partido já caiu na malha de investigações da Lava-Jato. Contra alguns já existem denúncias encaminhadas ao Supremo, e mesmo Temer é citado em delações premiadas. Sequer o tucano Aécio Neves, o mais forte nome para ser novamente candidato a presidente, em 2018, está blindado contra dissabores.
A operação Mãos Limpas, lançada na Itália no início da década de 1990, foi estudada por Moro, como uma espécie de prévia da Lava-Jato. Como esta, a “Mani Pulite” atingiu altos escalões federais — até um ex-primeiro-ministro, Betino Craxi, fugiu para a Tunísia e lá morreu sem voltar à Itália — e despedaçou partidos fortes. Em pleito nacional, os eleitores pulverizariam o Partido Socialista e a Democracia Cristã, envolvidos num enorme esquema de propinas muito semelhante ao petrolão do lulopetismo, aliados e empreiteiras.
Com a condenação de políticos, surgiu espaço para um dos investigados no mundo empresarial, o poderoso Silvio Berlusconi, chegar ao poder. Lá passou a conspirar contra a operação e a criar obstáculos legais a qualquer nova investigação desse tipo. Houve grande repúdio popular, alguns recuos de Berlusconi, mas não se pode dizer que a Mãos Limpas limpou a política italiana.
A Lava-Jato não está livre dos mesmos riscos. Que já existem. Por exemplo, o aguerrido deputado lulopetista Wadih Damous (RJ) já age como a tropa de choque de Berlusconi, ao propor projetos para barrar a delação premiada e rever decisão do Supremo de que o cumprimento de pena pode começar na condenação em segunda instância. Ironia: é um deputado petista a serviço de grandes empresários corruptores. Não surpreende, porque essa aliança ficou explícita no petrolão.
Pelo menos no Brasil há uma proposta de mudanças legislativas, com apoio de 2 milhões de eleitores, que acaba de ser encaminhada ao Congresso pelo Ministério Público. Transformá-las em leis é a blindagem que o combate à corrupção precisa neste momento.
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