• Oposição avalia que nova fase da operação reforça impeachment
Depois de uma semana positiva ao PT, nova fase da Lava-Jato preocupa a cúpula do partido
- O Globo
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Em reação à 27ª fase da Lava-Jato, o vice-líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), disse ontem que o juiz Sérgio Moro e os investigadores da Lava-Jato “extrapolam suas competências, agem à revelia da lei” e “como se fossem juízes e promotores criminais do estado de São Paulo”. O petista criticou o que considera uma tentativa de vincular as investigações à morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) e interferir no processo político.
Depois de uma semana com notícias favoráveis ao PT e ao governo, a 27ª fase da Lava-Jato, batizada de Carbono 14, caiu como uma ducha de água fria na cúpula da legenda. Os petistas acreditam que Moro novamente agiu politicamente ao deflagrar a operação.
— O Sérgio Moro puxou a Carbono 14 porque está semana estava boa para nós. Ele não tem limites. Pega uma coisa que estava na gaveta e vai soltando aos poucos, de pedacinho em pedacinho — afirmou um petista próximo ao ex-presidente Lula.
O objetivo, na avaliação dos aliados de Lula, é buscar uma declaração de Sílvio Pereira sobre o pecuarista e José Carlos Bumlai, amigo de Lula. O nome Carbono 14 (em referência a procedimentos utilizados pela ciência para a datação de itens e a investigação de fatos antigos), mostraria, segundo integrantes da cúpula do PT, que o objetivo é apenas requentar episódios do passado.
Na avaliação dos petistas próximos a Lula, uma conjunção de fatores tinha permitido ao governo respirar, nos últimos dias. Entre os pontos citados estão a decisão da presidente Dilma Rousseff de adotar um tom mais agressivo na batalha contra o impeachment, a forma como o PMDB anunciou o desembarque do governo e a enquadrada dada pelo novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, na Polícia Federal. Tudo isso agora está ameaçado com a nova fase da Lava-Jato, que trará ao noticiário assuntos incômodos para o partido, como a morte de Celso Daniel.
— O episódio da morte de Celso Daniel foi objeto de inúmeras manifestações na esfera criminal em São Paulo, já existem pessoas cumprindo pena por isso. Tentar reascender isso no imaginário da opinião pública, tentar fazer um vínculo sobre a investigação da Lava-Jato na Petrobras com esse episódio é algo absolutamente artificial, algo absolutamente incompreensível — disse Pimenta. — O Moro não é juiz criminal de São Paulo, os investigadores da Lava-Jato não são investigadores que atuam em todo o Brasil e não são da esfera criminal. Se houve uma assassinato, ele já foi esclarecido. Não tem nada a ver com a Lava-Jato. Tentar fazer esse vínculo é tentar semear na opinião pública mais elementos de instabilidade, de caos social, de ódio, é isto que está se produzindo.
Pimenta disse estranhar que, a cada vez que se faz um ato favorável ao governo, “imediatamente surge mais um fato para criar esse ambiente de espetáculo”. Para ele, a investigação sobre Celso Daniel não se justificam no âmbito da Lava-Jato. Integrantes da cúpula do PT e representantes do Planalto mostraram preocupação com o impacto da nova fase da operação. A avaliação é que a Carbono 14 atinja diretamente pessoas que foram ligadas ao PT e trazem à tona episódios traumáticos, como a morte de Celso Daniel.
Lula e Dilma continuam promovendo o troca-troca em cargos de segundo escalão. Mas as maiores trocas, segundo um interlocutor do governo, entraram em compasso de espera até a próxima semana, esperando “decantar” os desdobramentos da Lava-Jato, inclusive junto aos partidos da base que negociam cargos. Lula deve voltar a Brasília no início da próxima semana. Segundo um petista, há “muita preocupação” com essa ação da PF.
Dilma pretendia ter ontem uma definição sobre os ministérios do PMDB. Mas o movimento foi adiado. A tendência é a petista manter titulares como Helder Barbalho (Portos), em deferência ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que se reuniu com Lula na quarta-feira.
A oposição avalia que a nova fase reforça ainda mais o processo de impeachment de Dilma, pois agrega ao rol de suspeitas envolvendo o petrolão um novo componente, o criminal. Segundo os líderes oposicionistas, as investigações trazem à tona um crime que nunca foi elucidado e sobre o qual pairam suspeitas, o de Celso Daniel.
— Além da esfera de crimes de corrupção temos agora a de crime de morte. Esse caso assusta não apenas o país, mas o Congresso Nacional que vai votar o impeachment da presidente. Assusta e motiva ainda mais os que vão votar pelo impeachment da presidente — afirmou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy, acrescentando: — A Lava-Jato começa a elucidar os motivos do crime e certamente vai chegar nos mandantes.
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