• Silvinho, ex-secretário do PT, recebeu R$ 1 milhão de empreiteiras
Ex-tesoureiro do PT condenado no mensalão, Delúbio Soares foi levado para depor; PT acusa o juiz de extrapolar suas funções, mas petistas admitem temer o que o ex-secretário do partido possa falar
A operação Carbono 14, 27ª fase da Lava-Jato, ligou o escândalo de corrupção na Petrobras ao mensalão do PT e também ao assassinato do prefeito petista Celso Daniel, em 2002. Condenado no mensalão, o ex-secretário do PT Sílvio Pereira foi preso. Segundo a PF, ele recebeu, de 2009 a 2012, R$ 1,1 milhão de empreiteiras. Também foi preso o dono do jornal “Diário do Grande ABC”, Ronan Maria Pinto, que recebeu, em 2004, R$ 6 milhões do PT, dinheiro de empréstimo obtido pelo partido junto ao Banco Schahin em troca de contrato com a Petrobras. O juiz Sérgio Moro disse considerar “possível” que “esse esquema” tenha relação com o assassinato de Celso Daniel. O PT acusou Moro de extrapolar sua competência. Nos bastidores, o partido teme o que Silvinho possa falar.
Escândalos interligados
• Operação Carbono 14 liga corrupção na Petrobras a mensalão e ainda envolve caso Celso Daniel
Cleide Carvalho, Thiago Herdy e Tiago Dantas - O Globo
SÃO PAULO - A 27ª fase da Operação LavaJato deflagrada ontem ressuscitou velhos fantasmas do PT, associando os métodos de corrupção do mensalão ao esquema de desvios na Petrobras. Batizada de “Carbono 14” — em referência ao elemento químico usado pela ciência para datar fósseis —, a investigação busca esclarecer por que o dono do jornal “Diário do Grande ABC”, Ronan Maria Pinto recebeu, em 2004, R$ 6 milhões do PT, dinheiro oriundo de propina obtida pelo partido junto ao Grupo Schahin. O dinheiro foi recebido por meio de um empréstimo fraudulento com o Banco Schahin — mesmo método usado no escândalo do mensalão com o BMG e o Banco Rural.
Ontem foram presos Ronan Maria Pinto e o ex-secretário nacional do PT Sílvio Pereira, que teria participado da negociação do pagamento para o empresário do ABC paulista.
Em despacho, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, admitiu ainda relação do esquema com a morte do ex-prefeito petista de Santo André Celso Daniel: “É possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de 2002, do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, o que é ainda mais grave”.
Embora a Lava-Jato não tenha trazido fatos novos relacionados à investigação da morte de Celso Daniel — que a Polícia Civil de São Paulo concluiu se tratar de crime comum —, no processo foram anexados depoimentos do operador do mensalão Marcos Valério e de um irmão do ex-prefeito petista, Bruno Daniel, que associam a morte do prefeito à descoberta de esquema de corrupção na prefeitura de Santo André.
Em depoimento de 2012, Valério disse ter tido conhecimento do pagamento a Ronan Pinto como forma de evitar que ele continuasse a chantagear Gilberto Carvalho, José Dirceu e até o ex-presidente Lula. Embora tenha dito que não soubesse o motivo da chantagem, Valério afirmou que Ronan mencionou haver relação entre a morte de Celso Daniel e a corrupção na prefeitura petista.
Agora, quatro anos depois, a Lava-Jato conseguiu confirmar, por meio de quebras de sigilos bancários e depoimentos de testemunhas, que Ronan de fato recebeu o pagamento mencionado por Valério. O dinheiro é parte de um empréstimo fictício celebrado entre o Banco Schahin e o pecuarista José Carlos Bumlai, em 2004, no valor de R$ 12 milhões, a pedido do PT.
A força-tarefa descobriu que os R$ 6 milhões passaram por três intermediários antes de chegar a Ronan Pinto, que na época era empresário de ônibus em Santo André: por Bumlai, pelo grupo Bertin e por uma empresa chamada Remar Agenciamento.
Os R$ 12 milhões obtidos por Bumlai para o PT nunca foram pagos — o empréstimo foi oficialmente considerado quitado em 2009, quando empresas do Grupo Schahin fecharam contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras para construção da sonda Vitória 10000. Em depoimento, Bumlai e integrantes do Grupo Schahin admitiram ter acertado com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto o esquecimento da dívida mediante a assinatura do contrato. Os R$ 6 milhões restantes do empréstimo teriam sido usados para pagar dívidas de campanha do PT para a prefeitura de Campinas, em 2004.
— Há peculiaridades nessa fase, que envolve uma tipologia semelhante à encontrada no mensalão, pelo uso de uma instituição financeira, um empréstimo fraudulento. Enquanto no mensalão o pagamento desses empréstimos fraudulentos era feito mediante favores do governo federal, inclusive com edição de decretos e medidas que favoreciam as instituições financeiras, no caso presente, o favorecimento, o favor para o pagamento desse empréstimo, foi a utilização de um contrato bilionário com a Petrobras — explicou Diogo Castor de Mattos, procurador do MPF, um dos responsáveis pela investigação que apura crimes de extorsão, falsidade ideológica, fraude, corrupção ativa e passiva, e lavagem de dinheiro.
Ronan e Altman rebatem acusações
O procurador afirmou não haver, até agora, provas que liguem o pagamento de R$ 6 milhões a Ronan Pinto ao assassinato de Celso Daniel.
— Tudo é conjectura, nada é comprovado. Por ora, todas as hipóteses permanecem em aberto — afirmou.
Nesta 27ª fase, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Ronan Pinto e a Sílvio Pereira na capital paulista e no interior de São Paulo. Apontado como interlocutor do PT junto a Ronan Pinto, o jornalista do site “Opera Mundi”, Breno Altman, foi conduzido coercivamente para prestar depoimento à PF. O mesmo ocorreu com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, dirigente que teria participado de reuniões no Banco Schahin como representante do partido.
Em nota divulgada ontem, a defesa de Ronan disse que ele “reafirmará não ter relação com os fatos mencionados e estar sendo vítima de uma situação que poderá ser esclarecida de uma vez por todas”.
Em sua página em uma rede social, Breno Altman afirmou que a Lava-Jato “faz da intimidação, do espetáculo e do arbítrio suas principais ferramentas de intervenção”. No texto, ele escreveu não ter sido apresentada, durante o interrogatório, “prova ou indício” do seu envolvimento no caso investigado.
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