• Por meio de quebras de sigilos e documentos apreendidos, procuradores trilharam caminho dos R$ 6 milhões repassados por José Carlos Bumlai para Ronan Maria Pinto, preso junto com o ex-secretário do PT Silvio Pereira, alvos da Carbono 14
Por Julia Affonso, Ricardo Brandt, Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo
A Operação Carbono 14, desdobramento 27 da Lava Jato, trilhou do caminho do dinheiro – R$ 12 milhões – emprestado pelo Banco Schahin, em 2004, ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até ao repasse de R$ 6 milhões ao Ronan Maria Pinto, de Santo André (SP). Dono do Diário do Grande ABC e da Expresso Nova, ele preso nesta sexta-feira, 1.
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Em outubro de 2004, Bumlai contraiu um empréstimo junto ao Schahin de R$ 12,176 milhões. A partir da quebra de sigilo bancário e fiscal decretada pelo juiz federal Sérgio Moro, os investigadores descobriram que em 21 de outubro de 2004, no mesmo dia em que recebeu os recursos do Banco Schahin em sua conta-corrente, o pecuarista transferiu integralmente os valores para o Frigorífico Bertin.
“A partir do acesso aos dados de quebra de sigilo bancário, foi possível rastrear parte do destino final do dinheiro”, destaca o relatório do Ministério Público Federal na Carbono 14.
Segundo a Lava Jato, do total do montante, R$ 6,02 milhões foram transferidos do Frigorífico Bertin para a Remar Agenciamento e Assessoria. Os procuradores afirmam, no documento, que o responsável pela empresa Remar, Oswaldo Vieira Filho foi ouvido e disse que, por indicação do empresário Luiz Carlos Casante, de São Paulo, elaborou dois contratos de empréstimo no valor de R$ 6 milhões. Um com a empresa 2S do operador do mensalão Marcos Valério e o segundo com a Expresso Nova Santo André.
“Acrescentou que a 2S não transferiu valores para a Remar. Assim, houve transferência de recursos tão somente da sua empresa Remar para a Expresso Nova Santo André e outras pessoas indicadas por Ronan Maria Pinto. Afirmou que não houve devolução de recursos emprestados pela Expresso Nova Santo André, confirmando, ainda, que para realizar a operação receberia uma comissão “spread” de 5% que seria dividida com Luiz Carlos Casante. Juntou documentação comprobatória do pagamento a Luiz Carlos Casante da sua parte da comissão”, afirma o relatório da Procuradoria.
Do valor de R$ 5.673.569,21, o montante de R$ 2.943.407,91 foi repassado diretamente para a empresa Expresso Nova Santo André, de acordo com os procuradores. Após o recebimentos, a Expresso Nova Santo André fez seis transferências diretas de aproximadamente R$ 210 mil para as contas de Maury Dotto como pagamento pela venda das ações do Diário do Grande ABC. Maury Campos Dotto foi identificado pela força-tarefa como o acionista que vendeu o controle do Jornal Diário do Grande ABC para Ronan Maria Pinto em 2004.
Segundo as declarações de Imposto de Renda de Ronan Maria Pinto, em outubro de 2004, o empresário comprou 38,83% das quotas do Diário do Grande ABC por intermédio de empréstimo recebido da Expresso Nova Santo André no valor de R$3.652 milhões.
“Logo, do dinheiro que saiu do Banco Schahin, ao menos R$ 1.470 milhão foram utilizados para pagar diretamente a compra de ações do Jornal Diário do Grande ABC, sendo possível, neste ponto, vincular diretamente o esquema da fraude do empréstimo do Banco Schahin à compra do periódico”, destaca o Ministério Público Federal.
Durante as investigações da Lava Jato, foi apreendida a minuta de contrato no escritório da contadora Meire Poza, – que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef – de empréstimo de R$ 6 milhões entre a empresa Remar Agenciamento e Assessoria, de propriedade de Oswaldo Rodrigues Vieira Filho, e a empresa 2S, de Marcos Valério.
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