• Ministro promete diálogo com artistas críticos ao governo; Temer afirma que quer ‘redimir’ o setor
Renata Mariz, Catarina Alencastro, Eduardo Barretto – O Globo
-BRASÍLIA- Com um discurso recheado de referências culturais, exaltando da bossa nova ao sertanejo universitário, dos atabaques aos quipás, Marcelo Calero tomou posse ontem como ministro da Cultura. Funcionário de carreira do Itamaraty, ele usou de diplomacia para afirmar a crença no diálogo. Ele tentou afastar a cultura das disputas partidárias e disse que sua gestão não será pautada por qualquer “projeto de poder”.
— O partido da cultura é a cultura, não qualquer outro — afirmou.
Calero assume o Ministério da Cultura (MinC) após o presidente interino, Michel Temer, recuar da decisão de extinguir a pasta. Há pouco menos de uma semana, ele havia sido inicialmente anunciado como secretário de Cultura, subordinado ao Ministério da Educação (MEC). Na ocasião, tanto Calero quanto Mendonça Filho, ministro da Educação, afirmaram que Temer se comprometera em recuperar as perdas orçamentárias que o MinC tivera em relação a 2015 e, se possível, ampliar esses recursos, além de quitar R$ 236 milhões de débitos vencidos com produtores culturais.
Mea-culpa de Temer
A promessa foi confirmada ontem pelo próprio Temer, durante a solenidade. No discurso, o presidente interino fez um mea-culpa em relação à extinção do ministério e disse que, “desde os primeiros instantes”, percebeu que a Cultura era fundamental para o país e, por isso, deveria continuar com uma pasta própria. Temer disse que quer “redimir” a Cultura e fez elogios a Calero, que, segundo ele, “conseguiu reunificar todo o setor cultural” à frente da Secretaria municipal de Cultura do Rio.
— Verifiquei desde os primeiros instantes que, na verdade, a cultura era um setor tão fundamental do país — afirmou Michel Temer.
Calero disse que terá em breve uma reunião com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para discutir a liberação de recursos. Afirmou que pretende aproveitar as Olimpíadas para projetar a cultura brasileira internacionalmente. E defendeu que instrumentos legais de incentivo à cultura, como a Lei Rouanet, devem ser aprimorados “com eficiência e transparência”.
Mas evitou críticas aos antecessores. Ao afirmar que não é “comentarista político” para fazer análise da gestão anterior no MinC, Calero disse que é natural que a nova equipe reveja os projetos em andamento na pasta. Mas ressaltou que pretende manter ações ligadas ao Programa Nacional de Cultura e criar novas iniciativas para garantir a promoção da cultura respeitando características regionais.
Calero afirmou que manterá diálogo com grupos de artistas que estão fazendo oposição ao governo Temer, com ocupações de teatros e outros equipamentos culturais pelo país.
— O diálogo não é um fim em si próprio. O diálogo tem que existir para que a gente possa aprimorar a gestão, e é isso que a gente vai buscar — afirmou.
Entre nomes importantes do setor, estavam na posse o cineasta Cacá Diegues, o ator Odilon Wagner e a atriz e cineasta Carla Camurati, que presidiu a Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O ministro foi interrompido várias vezes por palmas efusivas durante o discurso cheio de menções literárias, referências ao cinema e trechos de músicas. Ao final, foi aplaudido de pé:
— Meu coração hoje está com os meninos do Teatro da Laje que vencem o medo, meu coração está hoje na Tijuca, o bairro carioca que me viu nascer e crescer. Meu coração hoje está com os quilombos, com o funk, com o sertanejo universitário, ele pula entre um trapézio e outro. Meu coração dança o ritmo do frevo, reza ao som dos atabaques. Está com todos que entendem a cultura como lugar da esperança.
Democratização de projetos culturais
Calero é servidor público de carreira. Em 2007, passou no concurso para a carreira diplomática. Trabalhou no Departamento de Energia do Itamaraty e na Embaixada do Brasil no México. Em 2013, foi cedido para a prefeitura do Rio, para atuar na assessoria internacional, quando comandou as comemorações dos 450 anos do Rio.
Em janeiro de 2015, assumiu a Secretaria municipal de Cultura do Rio. Entre os feitos de sua gestão, são apontados a reabertura do Teatro Serrador e a democratização de projetos para fora dos limites da zona rica da cidade. Uma das últimas realizações de Calero foi a criação do Passaporte Cultural Rio, passe para acesso gratuito ou com desconto a peças, exposições e shows durante os períodos olímpico e paralímpico.
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