quarta-feira, 25 de maio de 2016

Temer reage a "agressões" e afirma que sabe governar com pulso

Por Andrea Jubé e Bruno Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA - No discurso mais importante dos primeiros dias de seu governo - mais importante até mesmo que seu pronunciamento no dia da posse -,o presidente interino Michel Temer distribuiu recados a aliados, aos adversários e rebateu as críticas aos primeiros 12 dias de sua gestão. Em sua fala, disse que não há ruptura constitucional e afirmou que não terá receio de recuar sempre que necessário. Temer disse que respeitará as manifestações democráticas, mas não os tumultos.

Ressaltou que não se intimidará com o que classifica como agressão e observou que seu governo se distinguirá pela capacidade de "diálogo".

"Querem apontar-me como alguém que muda de posição", disse Temer. "Ao contrário, nós temos que perceber que isso é fruto do diálogo, esse será o governo do diálogo", definiu, a uma plateia formada por líderes da base governista na Câmara dos Deputados e no Senado, e pelos seus principais ministros.


Alvo de protestos e sob críticas diante dos recuos dos últimos dias - o mais notório foi a recriação do Ministério da Cultura -, Temer disse que não se sentirá constrangido de rever suas decisões sempre que necessário. Ele evocou o ex-presidente Juscelino Kubitscheck (1956-1961), que declarou durante seu mandato: "não tenho compromisso com o erro".

"Quem está no governo, se errou, não tem que ter compromisso com o erro. Nós somos como o JK, não temos compromisso com o equívoco, portanto, quando houver algum equívoco governamental nós reveremos este fato", disse, sem se referir ao Ministério da Cultura e a outras revisões.

Na reação mais enfática às recentes críticas aos recuos, Temer foi incisivo ao afirmar que tem pulso para governar. "Bom, mas o Temer está muito frágil, coitadinho, não sabe governar, isso é conversa", ironizou. "Eu fui secretário de Segurança Pública duas vezes em São Paulo, e tratava com bandidos. Então, sei o que fazer em um governo e saberei como conduzir", reforçou.

Temer afirmou que as "agressões" de que ele e seu governo têm sido vítimas funcionam como "pressão psicológica para ver se amedrontam o governo". Mas ressaltou que isso não o preocupa, porque a prioridade é "cuidar do país". Advertiu, contudo, que se uma agressão sai dos limites da lei, "o movimento democrático perde significado".

Temer desistiu de anunciar as medidas econômicas por meio de entrevista coletiva, e optou por antecipá-las aos líderes aliados, em discurso que foi transmitido aos jornalistas por um telão. A estratégia blindou Temer de perguntas incômodas sobre a saída precoce do então ministro do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Mas Temer aproveitou a deixa para reiterar o compromisso de não impor entraves ao avanço da Operação Lava-Jato. Sem citar o episódio envolvendo Jucá nem a investigação, Temer afirmou que não vai "impedir a apuração com vistas à moralidade pública, ao contrário, vamos incentivá-la".

Sem citar a presidente afastada Dilma Rousseff, Temer afirmou que está no comando do país porque era vice-presidente, e essa condição é uma "consequência do texto constitucional". Nesse contexto, afirmou que respeita a "interinidade" de seu governo, mas isso não implica que o país ficará parado nesse período.

"A interinidade não significa que o país deve parar. Ao contrário, o que nós devemos fazer é produzir todos os atos e fatos que possam levar o governo adiante aconteça o que acontecer lá para frente. O que não podemos é ficar paralisados", ressaltou.

Ao estilo de Jânio Quadros, e mostrando bom humor, fez ironia com as próprias mesóclises para reafirmar seu compromisso com o país. "Não tem essa coisa de não errei, posso ter errado e procurarei não errar. Mas se o fizer, consertá-lo-ei", disse. "As pessoas não gostaram do 'ei', do 'lo-ei', mas consertá-lo-ei, quer dizer, que eu falei assim, quase solenemente, para revelar ao senhores a importância desse momento que estamos vivendo no país", concluiu.

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