• Demora do Senado estimula Dilma e trava ação de Temer
- Valor Econômico
Depois de 13 anos de poder absoluto, período em que alimentou a tensão permanente, a disputa eleitoral diuturna, a resposta a qualquer crítica ou denúncia sacando do coldre a arma do nós contra eles, jamais indo ao cerne das questões, das críticas e das irregularidades, o PT ainda não conseguiu desentortar a boca para retomar sua bem sucedida fórmula de fazer oposição.
Partiu para a agressão à deriva, aos gritos de golpista dirigidos por parlamentares ao presidente interino que lhes fazia uma visita institucional, à campanha que denigre o Brasil no exterior, à pressão máxima do faça o que digo agora e não o que fiz até ontem, quando tinha no governo pelo menos cinco ministros atolados na Operação Lava-Jato.
Todas as pessoas que têm se manifestado dessa forma, no momento, seja no Brasil, na Argentina, no Chile, onde ex-ministros de Lula e Dilma foram agitar o ódio, o fazem porque querem voltar aos seus cargos. É a estratégia do semi-emprego, de fazer bastante confusão enquanto se ganha tempo para conquistar votos no Senado Federal e no Supremo Tribunal Federal para voltar ao poder. Desta vez sem os aliados da direita e do PMDB com os quais chegou lá.
O barulho é também para evitar que se nomeiem secretários-executivos, diretores de divisão, auxiliares técnicos de alto nível, dirigentes de sessões de compras, que façam o governo progredir, sair da letargia em que se encontrava, para ter alguma reação da economia do país com urgência, despertando sentimentos de confiança. O regime de ocupação nada sofreu.
A questão é que o impeachment à brasileira criou uma ambiguidade que torna fator de desestabilização o fato de a presidente afastada Dilma Rousseff não acatar a Constituição, e não permite ao presidente interino Michel Temer se estabilizar e ter governabilidade. É uma presidente afastada que não se afasta, em um comportamento claramente inconstitucional. E um presidente interino, que se respalda na Constituição o tempo todo, que não consegue se estabilizar por causa da demora de uma definição cabal.
Esse modelo foi agravado pela interpretação que o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso deu ao papel da Câmara no processo. Por antipatia ao presidente da hora, tirou o papel da Casa, de análise de admissibilidade. Então ficou a impressão que a discussão é só no Senado, para onde se voltam as pressões, expectativas e o poder. O comportamento dos deputados na votação do impeachment foi criticado por todos, mas não lhes restava opção a não ser prestar homenagens no seu voto: haviam passado por três dias de discursos contra a corrupção, ninguém suportaria que voltassem a isso no fim da agonia. Barroso acabou com a instância da Câmara.
Quem pode resolver os impasses causados por esse impeachment que divide o governo atualmente em constitucional (Temer) e inconstitucional (Dilma) é o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, e o presidente do Senado, Renan Calheiros. Se colocarem o impeachment para ser votado no prazo mínimo possível.
O impeachment de trombada, criado com as interferências do STF, coloca presidentes afastada e interino, com suas equipes, em luta pelos seus empregos. Uma porque acredita que vai voltar e precisa forçar a pressão para isso; outro porque tem a necessidade de governar para provar que consegue tirar o país do buraco, e porque a Constituição manda que assuma.
Ao descrever ontem alguns princípios que norteiam seu comportamento, interpretado como vacilante, Temer mostrou, de maneira crível, que suas ações derivam do fato de que é um homem do diálogo e um produto da Constituição, dois princípios de que sua antecessora, ficou muito claro ao longo de seu mandato, o primeiro, e agora, posteriormente, não faz a menor questão de observar, o segundo. Como é do diálogo, governará junto com a sociedade e, por isso, não teme reavaliações e recuos e trocas e mudanças se suas medidas não agradarem à sociedade.
O Brasil se desacostumou a essa dialética. Parece esquecido de como se faz política administrando conflitos e pressões. O discurso de ontem de Temer foi o mais político dos proferidos até agora, fundamentado no diálogo e na Constituição, que o levou ao cargo que ocupa interinamente. Deu uma carraspana na oposição, sem devolver as agressões que vem sofrendo, e mostrou que seus parâmetros para a Operação Lava-Jato não incluem não convidar citados em delações, mas não se constrange deles se livrar se sua instabilidade ameaçar a estabilidade do governo.
As dificuldades do governo Temer provam, sem necessidade de palavras, que ele não estava conspirando, como querem fazer crer os partidos que hoje são oposição a ele. Não estava montando governo paralelo e está encontrando extrema dificuldade para erguer o interino, emergencial e de salvação nacional.
Cada um dos lados tenta criar um clima favorável à sua postulação. Se a votação vier com prazo mínimo, os semi-empregados vão parar com as agressões e jogar no lixo os cartazes de acusação, comportamento com o qual não estão defendendo a pátria nem permitindo a governabilidade e sua volta aos cargos. Sequer para repetir a baixíssima performance da administração Dilma Rousseff.
Barroso
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, reincidiu. Havia expressado seu espanto diante de uma foto da cúpula do PMDB - "Meu Deus, essa é nossa alternativa de poder?" - quando sabia que os recursos ao STF sobre o impeachment seriam muitos e a alternativa constitucional era mesmo o PMDB.
Pediu para anular a gravação de suas palavras, mas era tarde, naquele momento já estavam espalhadas. Esta semana, durante discurso numa solenidade pública, em São Paulo, quando convidado a falar rapidamente sobre corrupção no Brasil, recorreu a uma piada sexual do Joãozinho para contar à sua plateia os riscos da rapidez, como relatou ontem a "Folha de S. Paulo". Desta vez pode reconhecer de novo que passou do limite, mas também não dá para apagar.
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