Em raro tom agressivo, com direito a um tapa na mesa, o presidente interino, Michel Temer, disse que sabe governar, que não é “coitadinho” e que já tratou com “bandidos” quando foi secretário de Segurança de São Paulo. Segundo aliados, foi uma resposta aos protestos na porta de sua casa.
Após protesto, presidente diz que ‘tratava com bandidos’
• Temer se referiu a atos em frente à sua casa, em São Paulo, que levaram Marcela a chorar
Simone Iglesias, Eduardo Barretto e Dimitrius Dantas - O Globo
BRASÍLIA E SÃO PAULO - As manifestações na porta de sua casa, na capital paulista, deixaram o presidente interino, Michel Temer, indignado. Foi especificamente em resposta aos protestos que Temer aproveitou seu discurso de ontem, na abertura da reunião com parlamentares, para se referir ao período em que foi secretário de Segurança de São Paulo e que “tratava com bandidos”.
— Bom, mas “o Temer está muito frágil, coitadinho, não sabe governar". Conversa! Eu fui secretário de Segurança Pública duas vezes em São Paulo, e tratava com bandidos. Então, eu sei o que fazer.
Na segunda-feira, quando um grupo de 40 manifestantes se concentrou em frente à sua residência aos gritos de “golpista”, sua mulher, Marcela, telefonou a ele, em Brasília, preocupada que houvesse uma invasão. Marcela estava chorando ao telefone, segundo relato de um auxiliar presidencial. O filho caçula, Michel, acordou com o barulho, e a mãe de Marcela, Norma Tedeschi, foi para a janela pedir que parassem, afirmando que Michelzinho, de oito anos, estava com febre.
— Mexeu com a família e ele está indignado — disse um interlocutor próximo a Temer.
Transferência para o Jaburu
O presidente interino avalia transferir Marcela e o filho para Brasília, para morarem com ele no Palácio do Jaburu. O que dificulta a transferência é o fato de Michelzinho estar na escola, no meio do semestre. Durante a entrevista coletiva, o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) tratou da questão de forma mais abrangente:
— Não cabe sequer ilação. É um homem que já foi secretário de Segurança Pública, enfrentou problema com bandidos. Ele tem estofo para aguentar qualquer tipo de pressão. Foi um homem que, com diálogo e firmeza, sem violência ou arroubo, soube enfrentar violência desse porte. Está preparado para enfrentar pressões que o cargo da Presidência impõe.
Ontem, a Polícia Militar colocou cones e faixas isolando a casa do presidente interino. O bloqueio atinge apenas a residência, principalmente durante a entrada e saída dos carros da segurança pessoal. São os únicos veículos autorizados a furar o bloqueio. O incremento na segurança ocorreu após manifestações em dois dias seguidos.
No domingo, a Frente Povo Sem Medo queria acampar em frente ao imóvel, mas foi impedida pelos policiais, que dispersaram os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo. Na noite de segunda-feira, um grupo de moradores da região contrários ao afastamento de Dilma Rousseff fez uma serenata com músicas de protesto contra o governo Temer. Com faixas que traziam inscrições como “O golpe mora ao lado”, cerca de 40 manifestantes cantavam e gritavam em frente à mansão, no bairro nobre do Alto de Pinheiros.
Atos antes da posse
O primeiro protesto em frente à casa de Temer em São Paulo aconteceu antes mesmo do afastamento de Dilma Rousseff do governo. No dia 21 de abril, cerca de 100 manifestantes do Levante Popular da Juventude organizaram um ato conhecido como “escracho”. Picharam no asfalto a frase “QG do golpe”.
Naquela data, Temer era presidente em exercício, já que Dilma havia viajado para os Estados Unidos para um evento da Organização das Nações Unidas (ONU).
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