Proposta para antecipar eleições é atacada por petistas e oposição
• Aliados do vice Michel Temer classificam ideia de Dilma de ‘delírio’
Leticia Fernandes, Cristiane Jungblut e Manoel Ventura - O Globo
-BRASÍLIA- O plano de convocar novas eleições, que a presidente Dilma Rousseff deverá botar em prática caso o impeachment seja aprovado no Senado, foi criticado até por parlamentares do PT. A medida, que deverá ser enviada ao Congresso por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), como informou O GLOBO ontem, não é consenso no partido e também foi atacada pela oposição e pelo grupo do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), que chamou a ideia de “delírio”.
Para o deputado Vicente Cândido (PT-SP), a proposta é inconstitucional, já que Temer teria que renunciar ao cargo junto com Dilma, o que ele já afirmou que não fará.
— Não acho que ela vá encampar essa ideia e não acho que deva fazer. Temos que focar no dia 11, no Senado. Ela não tem que propor nada que seja inconstitucional, não faz sentido. Só não é (inconstitucional) se o vice concordar em renunciar, o que não parece que vai — disse o parlamentar.
O deputado Marcon (PT-RS) também é contra a proposta e atenta para o alto custo de se realizar novas eleições.
— Sou contra, a presidente Dilma não tem que renunciar, ela foi eleita em 2014 por quatro anos. É gastar um dinheiro que não precisa. Vejo que o assunto não tem viabilidade interna no PT.
Os defensores alegam que, caso haja crise de legitimidade em uma gestão Temer, uma pressão popular poderia levar a uma nova eleição. A PEC seria o instrumento legal para isso.
Ontem, porém, o senador Jorge Viana (PT-AC) defendeu que Dilma assuma a frente política do movimento pela antecipação da eleição presidencial.
— O ideal é que a presidente Dilma propusesse isso, a antecipação da eleição presidencial, e que houvesse um entendimento com o Congresso. O impeachment não é a solução para a crise. Nova eleição é a solução para pacificar o país.
O petista, que conversou sobre o assunto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, admitiu que é preciso uma mudança na situação política para se aprovar a PEC. Ele reconheceu que nem mesmo os movimentos sociais apoiam a iniciativa. Parte deles, como o MST, é contra.
Entre os críticos do PMDB, alguns lembram que Dilma não obteve nem os votos suficientes para barrar o impeachment e que não conseguirá, portanto, apoio para aprovar uma PEC, que precisará de 3/5 dos votos do Congresso (308 na Câmara e 49 no Senado), em duas votações em cada Casa.
Um dos maiores aliados de Temer na Câmara, o deputado Baleia Rossi (PMDB-SP) criticou a possibilidade, que chamou de “discurso de palanque”.
— É uma ideia que deve ter sido criada por algum agente de marketing, mas que efetivamente não tem possibilidade jurídica de acontecer. É um discurso de palanque — disse Rossi.
A oposição também criticou a possibilidade. O deputado Mendonça Filho (DEM-PE) disse que a proposta é politicamente inviável e mostra o “desespero” do PT.
— Ela pode renunciar, mas não pode obrigar o vice a renunciar, porque quem cometeu os crimes de responsabilidade foi ela — disse.
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